Para o mês de Abril, a AIE estima que a perda chegue aos 29 milhões de barris por dia (mbpd) em comparação com igual período de 2019, e em Maio, embora com menor robustez, as quebras vão ainda ser substanciais, rondando os 12 mbpd, para fixar o total anual de perdas na procura em 9,3 mbpd.
O valor média estimado pela AIE para a quebra na procura ao longo dos 12 meses de 2020, 9,3 mbpd, é muito semelhante ao valor dos cortes acordados no seio da OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e 10 produtores "não alinhados" liderados pela Rússia, no passado Domingo, 9,7 mbpd - de 01 de Maio a finais de Junho -, como forma de reequilibrar os mercados que sofreram um golpe violento da crise económica mais grave a que o mundo assiste desde a Grande Depressão de 1929.
O deslize de 29 mbpd em Abril vai colocar o consumo mundial de petróleo em valores que já não ocorriam desde 1995, sendo que em 2019 esse consumo se situava em cerca de 100 mbpd e passa este mês para perto dos 70 milhões de barris por dia.
A AIE faz um forte sublinhado, neste relatório, ao facto de estas quebras estarem a ser observadas após o corte de 9,7 mbpd da OPEP+, que é, também, um recorde de sempre para um acordo de corte de produção com o objectivo de levar à recuperação do valor do barril em contexto de crise económica mundial.
Outro dado relevante contido neste relatório é a subida abrupta dos stocks estratégicos das grandes economias mundiais, desde logo a chinesa, aproveitando este período de petróleo barato, que tem sido, apesar de tudo, ainda uma bóia de salvação para o sector, embora os analistas já tenham advertido que os limites de armazenamento estratégico estejam prestes a ser atingidos.
Por detrás deste cenário de evidente crise no sector está a pandemia da Covid-19, que, como a AIE sublinha neste documento, gerou a mais grave crise económica em quase um século - desde a Grande Depressão de 1929 - e afecta a generalidade dos habitantes do planeta, sublinhando que medidas de restrição à mobilidade estão a ser aplicadas em 187 dos 193 países que existem em todo o planeta Terra.
Mas a AIE destaca ainda que, se estas previsões se concretizarem, em cima da mesa esta a possibilidade dramática de destruição dos ganhos no consumo conseguidos na última década, apesar de todas as medidas fiscais e financeiras aplicadas pelos Governos de todo o mundo e os programas de estímulos monetários, ou ainda as grandes medidas acordadas no seio dos países produtores de petróleo, como foram os acordos no seio da OPEP+ e a reunião dos ministros das Finanças do G20.
Mas a Agência admite que nem tudo é mau no contexto das previsões para 2020, estimando que na segunda metade do ano, se a produção cair de forma sólida, se as compras para os stocks estratégicos se mantiver ainda por algum tempo, então a procura poderá, com o esperado esbater da pandemia e dos seus efeitos sobre as economias, começar a superar a oferta.
Porém, alguns problemas poderão estar a ser esbatidos devido a questões técnicas, como, por exemplo, o aproveitamento dos investidores para armazenar todo o petróleo que puderem neste tempo de crude historicamente barato, alugando, inclusive, espaço em superpetroleiros em alto mar ou em oleodutos com reservas especiais.
E fica ainda um recado claro aos decisores mundiais: "Os preços baixos ameaçam a estabilidade de uma indústria que vai continuar por muito tempo a ter um papel central na economia global", deixando claro que, apesar destas quebras, as grandes multinacionais "devem manter os investimentos que permitirão colmatar os declínios normais da produção", como o esgotamento de campos, por exemplo.
No entanto, a queda esperada no investimento das empresas na exploração e produção é de 32% em relação a 2019, para 335 mil milhões USD, que, apesar do volume, vai ser o mais baixo em 13 anos, bem como será claro uma diminuição no investimento urgente em tecnologia inerente à transição para uma energia limpa em todo o mundo, como o combate às alterações climáticas impõem.