Perante a condenação unanime de mais um golpe de estado militar nesta região do continente africano em apenas um ano, depois do Mali e a Guiné-Conacri terem passado pelo mesmo, o Presidente Roch Kaboré foi detido, inicialmente, em instalações militares nas imediações da capital burquinense mas depois deixou de ser conhecido o seu paradeiro.
Com a destituição de Kaboré, emergiu deste golpe como novo líder transitório do país o tenente-coronel Paul Damiba, que tinha sido promovido a chefe da 3ª Região Militar do Burkina, que integra a capital, Ouagadougou, num movimento de troca de cargos entre militares e no Governo que almejava acalmar os protestos populares contra a incapacidade nacional de fazer frente aos grupos de radicais islâmicos que há anos espalham o terror no Sahel e já ceifaram a vida a milhares de pessoas, especialmente no norte.
O golpe, segundo estão a relatar os media internacionais com correspondentes no terreno, teve como rastilho o descontentamento popular face aos repetidos ataques dos jihadistas contra aldeias, muitas delas destruídas com extrema selvajaria, e aos aquartelamentos mal equipados da tropa na linha de fronteira, com centenas de militares mortos só nos últimos meses de 2021.
Este golpe foi consumado na segunda-feira, com tiroteios intensos junto do Palácio Presidencial, e com disparos episódicos ao longo do dia, tendo os golpistas ido à televisão estatal dar por findo o golpe e o seu sucesso cabal com a tomada definitiva do poder pelos quartéis e com a resignação assinada pelo agora ex-Chefe de Estado, Roch Kaboré.
Na reacção da comunidade internacional, desde logo da CEDEAO-ECOWAS, a organização económica sub-regional oeste-africana, da União Africana, da União Europeia e da ONU, a condenação foi imediata.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, veio, através do seu porta-voz, STephane Dujarric, pedir a libertação incondicional do Presidente Kaboré e a reposição da ordem constitucional, condenando de forma veemente mais este golpe militar na África Ocidental.
Apesar de nos últimos anos a União Africana ter afirmado a sua político de tolerância zero para com alterações à ordem constitucional por vias não-democráticas, a verdade é que estes se têm repetido a um ritmo que faz lembrar a segunda metade do século XX.
Até agora, apenas um golpe de Estado foi anulado por forças da organização regional CEDEAO nesta sub-região africana, e isso aconteceu na pequena Gâmbia, quando, em finais de 2016, o derrotado candidato e ex-Presidente Yaya Jammeh, procurou reverter a derrota eleitoral através de uma intentona, colhendo uma oposição firme e intempestiva dos países vizinhos que o obrigaram a retroceder sob ameaça de invasão militar.
Mas este foi o único caso em que a tolerância zero para com os golpes de Estado foi respeitada, porque, entretanto, outro se seguiram e foram conduzidos com sucesso por militares, desde logo, por exemplo, nos vizinhos Mali (também aqui) e Guiné-Conacri.