Uns desconfiam de uma mudança profunda, outros acreditam no ímpeto reformista do novo líder, e, entre uns e outros, nos corredores no VI Congresso Extraordinário do MPLA, realizado este sábado, 8, em Luanda, sucederam-se os apelos para que João Lourenço não deixe o partido cair nos erros do passado.
"O país anda de mal a pior. O novo presidente tem uma grande responsabilidade, e esperamos que com a ajuda de todos, os angolanos tenham dignidade", apontou Armando Semedo, um dos congressitas que falaram ao NJOnline.
Marcolino Moco, antigo secretário-geral do MPLA, junta-se à conversa, optimista em relação à liderança do novo presidente para resolver os problemas que o povo enfrenta. "Tenho confiança que, com a sua administração transparente e rigorosa, os angolanos terão felicidade", afirma.
Pelo contrário, o congressista Daniel Panda partilha o seu cepticismo. Segundo este, se o novo presidente continuar com a mesma equipa governamental não terá sucessos. "São elementos já viciados. Eles deveriam ser afastados", propõe.
Já o militante Carlos Jamba destaca que não gostou da forma como José Eduardo dos Santos se dirigiu aos congressistas. "Estávamos à espera de um discurso interessante, o que não aconteceu", lamentou.
Por sua vez, o secretário para as Relações Internacionais do MPLA, Julião Mateus Paulo, "Dino Matrosse", ressaltou a importância de os próximos congressos se abrirem a mais candidaturas na corrida para a direcção. "Isso fará muito bem ao nosso partido", sublinhou.
Enquanto esse pluralismo não chega às urnas, a sucessão destaca-se pela transição, descrita como "exemplar" pelo partido, e enaltecida pelo seu carácter pacífico pelo primeiro secretário do MPLA na Huíla, João Marcelino Tyipinge.
Para o também governador da província huilana, o momento deve servir para exaltar a contribuição de José Eduardo dos Santos no alcance da paz, reconciliação nacional e reconstrução do país.
Do passado para o futuro do partido, João Marcelino Tyipinge lembrou que as prioridades de João Lourenço na liderança estão estabelecidas no programa de acção do partido.
Novos ventos para Angola
Fora do perímetro do congresso, vigiado por mais de quatro mil efectivos da Polícia, Forças Armadas e da segurança pessoal, mas sem os clássicos constrangimentos à circulação, as movimentações na cúpula do MPLA também dão que falar, constatou o NJOnline nas imediações do Centro de Conferências de Belas.
"Novos ventos pairam sobre o nosso país", congratula-se Ermelinda da Costa, vendedora de cerveja. Segundo a comerciante, João Lourenço é o homem certo para resolver os problemas dos angolanos. "Um grupo de ambiciosos arruinou o país e hoje o angolano está na miséria", lamentou.
A confiança na liderança do novo presidente do MPLA também ecoa entre as fileiras da Polícia Nacional (PN).
"Desde que tomou posse em Setembro do ano passado, muita coisa mudou na corporação", disse ao NJOnline um agente da PN, que não se quis identificar.
Para além da presença dos congressitas, o conclave mobilizou vários membros do corpo diplomático acreditado no país e representantes religiosos. Como o bispo da igreja Tocoísta, Dom Afonso Nunes, que saudou a eleição de João Lourenço, salientando que "Deus vai-lhe abençoar".