O barril de Brent, aquele de determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, estava hoje, perto das 10:30, hora de Luanda, a valer 72,43 USD, ganhando 0,22% face ao encerramento de terça-feira, o que representa máximos desde Novembro de 2018.
Já o WTI, de Nova Iorque, estava a valer, à mesma hora, 70,19 USD, mais 0,21% que no fecho da sessão anterior, o que significa que é preciso recuar a Outubro de 2018 para encontrar o barril no principal mercado norte-americano a brilhar tanto.
Em síntese, o actual panorama global resulta de uma acelerada recuperação do lado da procura pela matéria-prima, forjada pela melhoria substantiva nas grandes economias mundiais, desde logo a norte-americana, a chinesa e a europeia, todas elas no rasto do fim paulatino dos confinamentos permitido pelas campanhas massivas de vacinação contra a Covid-19.
Alguns analistas admitem já que este é o momento em que se pode, sem correr o risco de tropeçar em imprevistos, afirmar que a crise gerada, a partir de Março/Abril de 2020, pelo Sars CoV-2, que alastrou da China para o resto do mundo como um rastilho de queima rápida, está ultrapassada e que a economia planetária vai entrar numa fase acelerada de ganhos diários, fazendo esquecer dois dos mais trágicos anos do último século, só comparável ao crash bolsista de 1929, em Nova Iorque.
Todavia, se a recuperação das economias é já um dado adquirido, como fica em evidência pelos dados referentes ao consumo de crude, pelos dados referentes às exportações e importações dos gigantes económicos, e ainda pela clareza com que se pode verificar que a pandemia está a recuar de forma acelerada nos principais blocos económicos - África e as partes mais pobres da Ásia são, ainda, a excepção -, por outro lado, as negociações para o levantamento das sanções dos EUA sobre o Irão, no âmbito do acordo nuclear, parecem ter entrado num pântano do qual tardam em conseguir sair.
E isto é especialmente relevante porque se o Irão voltar a introduzir nos mercados a sua produção, sendo o 4º maior produtor da OPEP em potencial extractivo, então, os efeitos dos programas de cortes estratégicos, em vigor desde o início da pandemia, vão ser substancialmente diluídos.
Isto, porque a chegada do Irão aos mercados terá sempre um efeito importante no actual equilíbrio dos mercados e tende a esvanecer ainda mais esse efeito se se considerar que este país do Golfo Pèrsico pode chegar aos 5 milhões de barris por dia (mbpd), sendo a capacidade quase imediata em torno dos 2 mbpd.
Em causa, recorde-se, está o levantamento das sanções dos EUA e a suspensão do programa nuclear de Teerão que remonta a 2015 e foi suspenso depois da chegada de Donald Trump à Casa Branca.
Em 2015, era Presidente Barack Obama, os EUA, em conjunto com a China, Rússia e países da União Europeia, assinaram um acordo que garantia a suspensão dos avanços no programa nuclear do Irão em troca da abertura dos mercados ao crude iraniano.
Teerão manteve os termos do acordado mas Washington não, porque, entretanto, Obama deixou a Casa Branca e ali chegou Donald Trump, que rapidamente anulou unilateralmente o acordo nuclear, repondo as sanções, obrigando a que o 4º maior produtor da OPEP fosse obrigado a recolher as mangueiras.
Agora, com a chegada de Joe Biden, que era o vice-Presidente de Obama em 2015, foram retomadas as negociações com o Irão para que este possa voltar a exportar crude desde que volte a suspender o enriquecimento de urânio, o elemento radioactivo que está na base da produção nuclear iraniana que Teerão garante ser apenas para fins civis.
Para já, ao que tudo indica, segundo relatam as agências que seguem ao minuto as negociações de Viena de Áustria, apesar de alguns impasses, que resultam da exigência de garantias de parte a parte, tudo parece estar alinhado para que o petróleo do gigante do Golfo Pérsico volte aos mercados.
Para que isso sucede, Teerão - que não deixou de cumprir o que fora acordado em 2015 - quer certezas de que o que vier agora a ser acordado não volta a ser anulado se houver uma mudança na Presidência dos EUA, enquanto Washington, entre outras exigências, quer estreitar o potencial de produção de material radioactivo enriquecido de forma a, também, ir de encontro aos receios dos países da região com relações azedas com o Irão, especialmente Israel e a Arábia Saudita.
Certo e seguro é que, quando essa abertura for concedida, o Irão - que tem eleições Presidenciais em Julho e isso pode retardar uma decisão - pode fazer chegar até 6 mbpd ao mercado, na sua máxima capacidade, embora, no imediato, os analistas apontem para que esse fluxo se fique, nos primeiros meses, entre os 500 mil e os 1,5 mbpd.
Seja como for, esse volume de petróleo fresco nos mercados pode gerar desequilíbrio e obrigar a OPEP+ a reajustes nos seus planos de recuperação da produção que, neste momento, estão apontados a mais 350 mil bpd em Maio, outros tantos em Junho e 400 mil bpd em Julho, levando a que os cortes passem, com os ajustes feitos antes, dos quase 8 mbpd no início de 2020, com a eclosão da crise pandémica, para perto dos 5 mbpd previstos para o início de Agosto próximo.