Este recrudescimento do conflito entre os rebeldes houthis, apoiados pelo Irão, e a coligação liderada pela Arábia Saudita, que os combate no Iémen, empurrou o barril de Brent, vendido em Londres, para os 88,16 USD no arranque da sessão, um valor que já não se via há sete anos.
Este ataque dos houthis em Abu Dabi, que vitimou três civis perto do aeroporto deste pequeno emirato dos EAU, levou a uma resposta imediata dos sauditas, que lançaram raides aéreos sobre Sana, a capital do Iémen, tendo como alvos resguardos houthis.
Este ataque e contra-ataque prenuncia um novo período de violência nesta zona do mundo, que coincide com dois pontos estratégicos para a economia mundial, o Gofo Pérsico, de onde parte mais de 20% do crude consumido diariamente em todo o mundo, e o Mar Vermelho, que liga ao Canal do Suez, essencial para o comércio global, ligando a Ásia à Europa.
O Iémen, geograficamente situado na zona sudoeste da Península Arábica, e os EAU, na zona sudeste do Golfo Pérsico, na mesma Península Arábica, fazem, pela primeira vez, deste conflito, que já dura desde 2015, quando Riade avançou com uma intervenção militar robusta para defender o Governo de Sana que enfrentava o poder Houthi.
Este conflito colocou, numa espécie de "guerra fria" regional, os dois grandes e poderosos inimigos, o Irão e a Arábia Saudita, a digladiar-se no Iémen, sendo que, agora, o conflito periga a economia mundial ao levar o cheiro a pólvora do Mar Vermelho ao Golfo Pérsico.
Para além de vários feridos, o ataque tirou a vida a pelo menos três civis, dois paquistaneses e um indiano, junto ao aeroporto, tendo, segundo contam as agências de notícias, provocado múltiplas explosões na capital dos EAU, para as quais os houthis iemenitas já assumiram a responsabilidade.
De Riade, a partir de onde os sauditas gerem este conflito liderando uma coligação que abrange os EAU, saiu a ameaça de responder com força a estes "crimes de guerra" dos quais acusam os iranianos desde o início como principais instigadores e apoiantes dos rebeldes.
O Iémen é o único país da Península Arábica que não usufrui das riquezas do petróleo e do gás natural que abundam nos países vizinhos, sendo um dos países mais pobres da região, e onde uma crise humanitária trágica vinga e ceifa vidas há mais de uma década.
Para o negócio do petróleo, este reerguer do conflito, que estava, pelo menos nos media internacionais, adormecido há meses, desde o ataque aos campos petrolíferos sauditas, veio dar ainda mais "gás" aos mercados, que já vinham a marcar diariamente valorizações recorde do barril.
E o momento, para as economias, como a angolana, que ainda vive dependente das exportações petrolíferas, que já era promissor, com o barril a aumentar de valor para patamares pré-pandemia, está agora a ir muito além disso, atingindo números que não eram vistos nos gráficos há sete anos, abeirando-se da casa dos 90 USD devido à crescente procura num mercado que floresce à medida que o Sars CoV-2 perde vigor pandémico e está limitado na oferta pelas restrições impostas pela OPEP+ e ainda pela incapacidade de resposta devido ao desinvestimento no sector que já se vem sentindo com ímpeto desde 2016.
Face a este momento tenso no Médio Oriente, com houthis e sauditas a prometerem mais pólvora nesta imensa fogueira que arde sobre os mais vastos campos petrolíferos do mundo, o que os analistas estão a avançar é que, se não houver um baixar de armas rapidamente, o mundo pode dar de caras com uma crise petrolífera como já não se vê há décadas.
Um dos alvos dos rebeldes iemenitas, nos ataques das últimas horas, foi mesmo um gigantesco depósito de crude denominado MUssafah, de onde os EAU fornecem os seus clientes internacionais, estando a ADNOC, a petrolífera nacional, a garantir que está a fazer tudo para que não ocorram interrupções nesse fornecimento.
Perante o risco de propagação do "fogo" pelo Médio Oriente a partir deste conflito, que, tem por detrás as duas maiores potências regionais islâmicas, o Irão e a Arábia Saudita, com Israel pelo meio, a comunidade internacional apressou-se a vir a terreiro pedir contenção, como o expressou de forma veemente o Secretário-Geral da ONU.
António Guterres pediu a "máxima contenção" para evitar o pior e deixou como alerta a ideia de que só o diálogo pode conduzir a uma solução que permita as partes todas sair bem deste imbróglio.
Os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, China e Rússia já vieram deixar recados sobre este conflito, tendo como como diapasão a imperiosa necessidade de conter os ânimos, condenando os ataques houthis.