O barril de Brent, que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, estava, hoje, perto das 09:30, hora de Luanda, a bater nos 120 USD, como o Novo Jornal já antecipava na sexta-feira, com o início do Conselho Europeu a prometer um embargo parcial ou total ao crude importado pelos 27 da Rússia, e ainda devido à perda cambial do dólar norte-americano face às moedas concorrentes e ao diluir dos confinamentos anti-Covid-19 na China.
É, todavia, na Europa, em Bruxelas, que se está a talhar a forma dos mercados do petróleo para as próximas semanas, pelo menos, porque em cima da mesa os Chefes de Governo e de Estado do bloco dos 27 têm uma das mais drásticas e de maior envergadura decisões em muito tempo, que é avançar para um corte ao crude da Rússia, embora não seja possível antecipar se parcial ou total, porque há países que estão claramente contra esta medida, como a Hungria, e com reservas, como a Alemanha, a Eslováquia, Áustria, entre outros, embora os seus posicionamentos sejam de enorme volatilidade.
Seja qual for a decisão do Conselho Europeu, que vai contar com um discurso do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esta vai afectar os mercados, porque qualquer perturbação no fluxo de petróleo para os mercados com origem na Rússia, o 2º maior exportador do mundo, vai levar a uma reacção em alta.
Ursula Von Der Leyen - que tem como objectivo retirar à Rússia os mais de 800 milhões USD que recebe da UE pelo crude e pelo gás e com os quais diz que o Kremlin está a financiar a guerra - conseguir impor a sua vontade de levar o "castigo" a Moscovo até ao limite, com um corte total nas importações, então nada poderá, como alguns analistas já admitiram, deter uma robusta valorização do barril, cujo limite, nalgumas antecipações feitas por especialistas, pode ultrapassar, largamente, o recorde de sempre para o barril de Brent, que foi os 147 USD em Junho de 2008.
Isto, porque todo o crude que deixar de ser fornecido pela Rússia, 40% do total consumido na União Europeia - em 2021 foi perto de 3,1 milhões de barris por dia, em bruto, e mais de 1,5 milhões de barris por dia em produtos refinados - vai ter de chegar à Europa, de forma a evitar uma catástrofe económica, de outros fornecedores, especialmente África e Médio Oriente, ou ainda dos EUA.
Mas há um "mas" nesta lógica, porque nela nada há de simples. Os grandes produtores/exportadores, que estão, quase sem excepção, no cartel da OPEP+, que desde 2017 une esforços entre os 13 Países Exportadores da OPEP e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, para manter os mercados equilibrados face às sucessivas crises, estão já na sua capacidade máxima de produção, com raras excepções, devido ao forte desinvestimento em pesquisa e produção desde 2014, que deixou, por exemplo, Angola e Nigéria incapazes, sequer, de corresponder na totalidade às quotas entregues pelo "cartel" no seu plano de parcimonioso aumento da produção no fade out da crise pandémica que, por todos os 23 membros, equivale a apenas 400 mil barris por dia/mensalmente.
E se a matéria-prima que até aqui chega à Europa ocidental proveniente da Rússia, através de oleodutos já devidamente testados e operacionalizados, deixar de fluir e este tiver de chegar às economias da Alemanha, Itália, França... via marítima ou, em muito menor quantidade, via oleodutos da Noruega/Mar do Norte, então, não só a matéria-prima se tornará escassa nos mercados, como o seu fornecimento será mais oneroso para quem compra, o que levará à tal subida incontida nos mercados.
Mas, claro, tudo vai depender da decisão que sair deste Conselho Europeu na terça-feira, que entre um corte radical, que levaria a Europa para uma crise sem precedentes até que o equilíbrio fosse restabelecido, a um embargo parcial, e com excepções criadas para alguns países, que ficariam de fora das medidas, levará sempre a um choque no negócio global da energia, com aumento dos preços, de imediato do crude, mas depois de toda energia fóssil, deste o gás, que também tem na Rússia um dos três maiores produtores do mundo e maior fornecedor, de longe, dos europeus, ao carvão.
Alguns analistas admitem que a União Europeia, com todas as contradições internas, se vai ver obrigada a uma decisão salomónica, tendencialmente salvaguardando os interesses dos países menos expostos à energia russa formulando um embargo parcial que abranja apenas os países com menos dependência ou os que estão mais empenhados no fomento da guerra na Ucrânia, seja pelo fornecimento de armas aos ucranianos, seja pelo apoio a um crescendo das sanções aos russos, enquanto aos restantes tal decisão, de avanço por etapas nesse embargo ou não, ficará dependente de opções nacionais.
Ainda o Sars CoV-2
Ainda a contribuir para o aumento do valor do barril nos mercados está a diluição dos confinamentos na China, cujo impacto do fecho de dezenas de milhões de pessoas em suas casas devido à Covid-19, especialmente nas cidades de Pequim e Xangai, mas noutros de menor dimensão também, está a chegar aos dados da economia do gigante asiático, que pode, segundo, a Bloomberg, pode, este ano, ver o seu PIB, que sempre cresceu acima de 6% nas duas últimas décadas, ficar agora mesmo abaixo dos 3%.
Isto é aterrador para os mercados porque a China é, de longe, o maior importador de crude enquanto segunda maior economia mundial, e a sua actividade económica repercute-se em todo o mundo de imediato, estando mesmo o Governo de Xi Jinping a elaborar um plano de estímulos à economia que pode chegar aos 3 triliões de dólares, para inverter este cenário de perda de robustez.
Entretanto, também a desvalorização do dólar norte-americano está a gerar condições para a valorização do barril, porque tem vindo, nos últimos dias, a perder valor depois de uma valorização recorde de quase duas décadas, o que leva a que os países compradores, que pagam, com poucas excepções, o crude em moeda norte-americana, tenham de usar menor volume das suas moedas para adquirir mais dólares devido ao seu desviçamento cambial.
A crise económica à espreita
Há uma grave crise económica à espreita por causa da guerra na Ucrânia, embora existam outras, como o próprio FMI admite, incluindo o risco de uma receção nos EUA, com valores de inflação históricos também na Europa, com a média a passar já os dois dígitos, com um desemprego galopante e encolhimento gritante do consumo.
Para já, os mercados estão a valorizar mais os riscos que resultam do encolhimento da oferta do crude russo e o aumento do consumo nos EUA devido a questões não directamente relacionadas com a economia, como as férias familiares de Verão.
E isso é hoje, 30, claro ao analisar os mercados, que sobem em média mais de 1%, coerentemente com dois meses de transacções em alta, apertados pela continuação de uma oferta estreita face à procura, que nem sequer a libertação de milhões de barris das reservas estratégicas dos EUA e de países aliados, como Japão e Coreia do Sul, está a ajudar a alargar, sofrendo ainda do efeito de recuperação - diluído, apesar de tudo, pela guerra na Ucrânia - permitida pelo fade out da crise pandémica.
Com este incandescente momento nos mercados, Angola é um dos países exportadores mais beneficiados, de acordo com a Fitch Solutions.
É-o porque o petróleo representa cerca de 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do seu PIB e até 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.