A Interpol, uma polícia de investigação criminal internacional, com sede em Lyon, França, criada em 1923, não tem dúvidas de que parte do material de guerra que está a ser fornecido à Ucrânia para combater a invasão russa vai acabar nas mãos de traficantes internacionais de armamento, falta apenas perceber a velocidade a que isso vai suceder.

O chefe da Interpol, Jurgen Stock, deixou clara, publicamente, a sua convicção da chegada de muitas destas armas ao mercado, a partir de onde serão vendidas a quem pagar mais, seja para sustentar um golpe de Estado em África, seja para assaltar um banco em Nova Iorque, faltando apenas perceber se esse fluxo será já evidente ou se aumentará apenas quando a guerra terminar e as armas se calarem.

No entanto, num contexto global em que esta preocupação já foi levantada por outras organizações, incluindo o Congresso dos Estados Unidos, porque esse problema já sucedeu em países como o Iraque e, mais recentemente, no Afeganistão, onde os Taliban, com a saída apressada dos EUA, ficaram com todos os arsenais deixados para trás, desde veículos blindados a lança-roquetes sofisticados, além de milhares de armas ligeiras, a presença de conhecidas redes de tráfico ucranianas, configuradas em redes mafiosas de grande alcance, a pressão pode estar a ser de tal ordem que mesmo antes da guerra terminar, o fluxo de armas para o mercado negro é um risco permanente.

Jurgen Stock admite mesmo que, neste contexto, todo o tipo de armas que pode ser transportado é potencialmente interessante para os traficantes, sendo que os mais perigosos são os misseis antiaéreos, Stinger, e antitanque, Javelin ou N-Law britânicos (na foto), entre outros, que, nas mãos de grupos de terroristas podem ter consequências devastadoras.

"Sabemos que os grupos criminosos procuram explorar estas situações caóticas para delas retirar todas as vantagens, e neste caso, em armas, sem esquecer as em uso por miliares e nem sequer as armas pesadas", aponta Stock, explicando que se trata de um problema a que nenhum país vai "conseguir responder eficazmente sozinho".

"Já temos experiência bastante tirada noutros cenários semelhantes para perceber que isso é inevitável e neste preciso momento em que falo há traficantes a trabalhar para deitar a mão às armas existentes na Ucrânia", disse.

A Ucrânia é um problema acrescido porque, como todos os relatórios de organismos internacionais notavam antes da guerra, como a Organização para a Segurança e Cooperação da Europa OSCE), ali existem organizações muito organizadas e com tentáculos que chegam ao topo do Governo.

Quanto mais tempo durar a guerra, mais oportunidades as redes criminosas têm para deitar a mão ao armamento mais apetecível no mercado negro internacional, como os misseis portáteis ou as unidades de artilharia ligeira, além de minas, granadas, espingardas automáticas, etc.

E isso, o tempo de guerra longo, é uma quase certeza, até porque a Rússia já fez saber que não está interessa em meter o pé no travão enquanto não atingir todos os objectivos traçados para a sua "operação militar especial" na Ucrânia.

O Porta voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em conversa com jornalistas, frisou isso mesmo, que as forças russas vão continuar os combates até que sejam conseguidos os objectivos traçados pelo Presidente Putin.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.