Este anúncio de Joe Biden de que fará chegar os MLRS (ver foto), ou Himars, às forças ucranianas, que desde 24 de Fevereiro resistem à invasão russa, teria como resultado uma reacção severa de Moscovo, porque, como explicam os especialistas, este armamento pode ter uma influência importante no desenrolar do conflito dando uma vantagem clara à Ucrânia no fogo de artilharia de longo alcance e precisão.
O equipamento militar em questão não é uma novidade em contexto de guerra na Ucrânia, porque tanto russos como ucranianos o usam, sob a denominação de BM-21 GRAD, mas o MLRS norte-americano possui, sem comparação, mais alcance, até 600 kms, e uma precisão inigualável, que pode alterar por completo a correlação de forças na frente de batalha, actualmente numa fase em que ambos os lados apostam claramente no fogo de artilharia de longo alcance para destruir posições do inimigo.
Uma das questões usadas até aqui pelos norte-americanos para protelarem a entrega dos seus MLRS a Ucrânia é que, devido ao seu potencial, embora algumas versões deste disparador múltiplo de roquetes sejam de menor alcance, até 100 kms, é que Kiev aproveite para os usar em ataques dentro do território russo, o que é comummente aceite como passo de gigante para uma expansão desta guerra para fora das fronteiras da Ucrânia e que envolverá o risco de um conflito directo entre forças russas e a NATO.
Recorde-se que no início deste conflito, tanto Joe Biden como Vladimir Putin mostraram-se conscientes de que era necessário evitar a todo o custo um confronto directo entre as duas superpotências militares porque isso levaria rapidamente a uma escalada para a III Guerra Mundial onde é impossível de evitar que se chegue ao catastrófico patamar nuclear.
Para já, embora analistas admitam que estes equipamentos já terão chegado à Ucrânia porque era preciso evitar a possibilidade destes carregamentos serem atingidos pelos mísseis de longo alcance e precisão russos, Kalibr e Iskander, com os quais têm sido destruídos vários dos seus depósitos no oeste ucraniano, onde são guardados longe da linha da frente, a Rússia mostra forte descontentamento com este passo dado por Washington.
Se, por um lado, Joe Biden fez saber as suas chefias militares que em nenhum contexto estes MLRS podem ser usados para atacar território da Federação Russa, por outro, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, este passo de Washington coloca o mundo muito mais próximo de um conflito directo entre EUA e Rússia.
Numa discussão na ONU, o diplomata russo insistiu no sentido de que esse risco está a aumentar e que os EUA têm de estar conscientes do passo que estão a dar, até porque o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, já disse publicamente que o objectivo é vergar a Rússia até que esta se dobre sobre os seus joelhos.
"Este conflito está agora muito mais perigoso", atirou o Riabkov, que acrescentou que os EUA estão num caminho de "levar este conflito até ao último soldado ucraniano de fora a infligir uma, como dizem amiúde, uma derrota estratégica da Rússia".
E avisou que "esse plano é extremamente perigoso e não tem precedentes conhecidos", tendo Sergei Ryabkov notado também que os Estados Unidos, sabendo disso, não parecem querer travar esta escalada.
Para já, se a palavra de Volodymyr Zelensky, o frenético comunicacional Presidente ucraniano chegar, os MRLS norte-americanos não serão empegues no ataque directo a alvos no interior da Rússia, porque o objectivo é "libertar a Ucrânia dos invasores" e não intentar qualquer acção do outro lado da fronteira com a Federação Russa.
Todavia, sendo certo que, à medida que a qualidade das armas e a sua potência entregues pelos EUA e aliados da NATO aumenta, a Rússia tem vindo a insistir numa crescente escalada verbal, somando patamares de melindre de cada vez que isso sucede, como há pouco mais de três semanas, quando chegou à frente de combates os famosos M777, canhões de longo alcance e de precisão norte-americanos que elevaram substancialmente a capacidade local de infligir perdas nas forças russas a distâncias de dezenas de quilómetros.
Agora, com os MRLS, de dezenas de quilómetros passa a centenas, mesmo até 600 kms, não havendo alvos russos fora do seu alcance, o que proporciona um, reconhecido pelos analistas e especialistas militares, novo reequilíbrio dos confrontos.
O flagelo em números
Esta entrega de equipamento militar avançado - não há melhor no mundo - pelos EUA coincide com a admissão por parte do Presidente da Ucrânia que este é o momento mais difícil desta guerra para o seu país, com as perdas em territórios no Donbass, face aos avanços das forças russas, especialmente na República independentista de Lugansk, onde o último reduto da resistência local, a cidade de SEverodonetsk , está praticamente tomada pelas unidades de combate do Kremlin, em máximos.
Zelensky admitiu em entrevista a Newsmax, citada pela CNN, que as forças ucranianas estão a perder entre 60 e 100 soldados por dia, e 500, feridos, deixam as frentes de combate, o que permite entender que, com este volume de perdas - do lado russo não devem ser diferentes - dificilmente é possível manter este tipo de esforço de guerra.
Também os impactos económicos importantes na Europa e nos EUA e catastróficos na Ásia e em África - ver links em baixo, nesta página -, estão a forçar ao recomeço das negociações, tendo mesmo o Presidente russo, Vladimir Putin, admito estar disponível para que os dois países voltem à mesa das conversações, interrompidas há mais de um mês.
Zelensky, que não deixa de apontar o dedo a Moscovo pelo sofrimento que está a ser causado ao seu povo, e não admite cedências de territórios da Ucrânia à Rússia, peindo sempre mais armamento e sanções à Rússia - obteve na segunda-feira uma vitória importantes neste capítulo - tinha dito o mesmo há dias, que é necessário voltar ao diálogo... falta agora um interlocutor influente que leve o conflito de novo para a mesa das negociações.
Entretanto, na frente de batalha, as forças russas...
... estão praticamente a dominar por completo a cidade estratégica de Severodonetsk, o último reduto da resistência ucraniana na República Popular de Lugansk, cuja independência é apenas reconhecida por Moscovo, tal como a de Donetsk, no Donbass, leste ucraniano, com fronteira com a Rússia.
Estes avanços territoriais russos são já reconhecidos pelo Presidente ucraniano, que garante não ser ainda a derrota da resistência no Donbass mas admite que se trata de uma situação extremamente difícil.
E isso parece ser á evidente com a tomada desta cidade de Severrodonetsk que é o que sustem ainda menos de 5% do território de Lugansk por tomar pelas unidades de combate russas e das mílicias independentistas, o que, segundo a BBC, resultou do sucesso russo na penetração das linhas de defesa urbanas montadas pelas forças ucranianas.
O reforço da capacidade de combate de Moscovo
Sem que as autoridades militares russas o tenham desmentido, para a frente de combate, o Kremlin está a enviar largas dezenas de milhares de homens das unidades militares do centro e do oriente da Rússia, de forma a reforçar o poderio militar russo no Donbass, onde decorre aquela que os dois lados já admitiram que é a batalha decisiva, ou batalhas, desta guerra e que os especialistas miliares definem como sendo a expulsão das forças ucranianas das repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, e a ligação terrestre entre o Donbass e a Península da Crimeia, o que daria a Moscovo o controlo sobre todo o Mar de Azov e uma boa parte do Mar Negro.
Segundo as informações disponíveis, e dependendo das fontes, do lado russo podem estar entre 120 e 160 mil militares em avanços lentos nas frentes de combate, com reforços permanentes vindo da Rússia, procurando, tanto de sul, como de Norte, avançar e cercar as entre 80 e 100 mil tropas ucranianas, que se concentram na frente do Donbass.
O foco das forças russas é não só expulsar os ucranianos das "suas" repúblicas do Donbass (Donetsk e Lugansk) como garantir que cortam a capacidade de os aliados de Kiev conseguirem fazer chegar o material militar, desde os mísseis anti-aéreos e anti-carro, Javelin e Stinger, às viaturas blindadas enviadas pelos EUA e aliados ocidentais, para o que estão a empregar centenas de mísseis de longo, médio e curto alcance, mas com forte precisão, como os M-54 Kalibr, que estão a ser disparados dos navios estacionados no Mar Negro e da Crimeia, e os 9K-720 Iskander, de menor alcance mas mais manobráveis porque podem ser deslocados em viaturas de rodas nas imediações do campo de batalha.
Com este armamento sofisticado, os russos estão a visar vias férreas, pontes e aeródromos ou mesmo aeroportos, como sucedeu na passada semana, em Odessa, onde o aeroporto desta que é uma das maiores cidades do país, foi parcialmente destruído porque ali estava armazenada grande quantidade de equipamento militar enviado do exterior pelos países da NATO.
Já os ucranianos, sem capacidade de acção aérea, procuram, através dos meios sofisticados que estão a receber dos seus aliados, com realce para os mísseis antiaéreo e anticarro Stinger e Javelin, cuja eficácia tem forçado as colunas russas a refrear os avanços, e que podem ser o factor de equilíbrio neste conflito, não só atrasar o avanço russo para os seus objectivos como ganhar tempo de forma a desgastar as forças russas a ponto de conseguir que o Kremlin aceite negociar de forma mais vantajosa para Kiev.
Os ucranianos estão, porém, a ser fornecidos diariamente também por artilharia pesada e carros de combate que permitem às suas unidades maior resistência ao avanço russo e, por vezes, recuperar território que estava já nas mãos das forças de Moscovo.
Nos últimos dias, as unidades de combate ucranianas retomaram a cidade de Kahrkiv, a apenas 50 kms da Rússia, no norte da Ucrânia, chegando mesmo à fronteira do país vizinho. No entanto, esta reconquista ucraniana pode não ter grande valor militar porque as forças russas, segundo alguns analistas, só permaneciam na cidade como forma de fixar forças ucranianas mantendo-as afastadas do foco principal da guerra, que é a região do Donbass.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da
Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.