Actualmente com a sua actividade reduzida a mínimos por causa do plano de contingência criado para lidar com a pandemia da Covid-19 em Angola, os australianos da Lucapa Diamond Company, que exploram o Lulo em parceria com a Endiama e os privados da Rosa & Pétalas, estão a negociar com as autoridades nacionais a retoma da actividade normal de forma a aproveitar ao máximo a época seca, Cacimbo, que se avizinha.
Um dos objectivos da operadora do Lulo, que é o mais famoso couto mineiro de Angola, a par da Catoca, o 4º maior kimberlito do mundo, é, finalmente, perceber a origem de todos os grandes diamantes que foram encontrados nos últimos quase cinco anos de exploração em aluvião, sendo que há mesmo estudos que apontam para que a quantidade de quilates em depósito seja muito superior ao até aqui estimado.
A hipótese que mais incentiva esta cotada australiana, como tem divulgado nos últimos três anos, é que o kimberlito-mãe desses gigantes - do Lulo brotaram os quatro maiores diamantes alguma vez encontrados em Angola - esteja no interior dos mais de 3.000 kms da exploração, onde todas as "pedras" foram, até hoje, retiradas do aluvião constituído pelos inúmeros cursos de água da área sem que se saiba a sua origem.
Numa nota divulgada na Austrália, onde a empresa está cotada em bolsa e estas notícias são importantes para a sua valorização de mercado, a Lucapa Diamond Company avançou que, com o fim da estação das chuvas, vai apostar na pesquisa nos afluentes de Canguige, na área a montante do seu bloco 46, de onde saíram as mais valiosas gemas do Lulo e, quem sabe se não será, finalmente, encontrada a origem dos mundialmente famosos "gigantes" da Lunda Norte.
Mas a Lucapa anunciou ainda que está a trabalhar com a Endiama para encontrar formas de gerar liquidez para os produtores do sector em Angola, depois de a indústria ter sido fortemente atingida, tal como outros, pelo impacto da pandemia na economia global dos diamantes, nomeadamente na China e na Índia, mercados que quase estagnaram.
Crescer em Angola
Antes desta crise emergir a partir da China, a Lucapa Diamond Company estava em negociações com o Governo angolano e a Endiama para aumentar a sua quota no capital do projecto mineiro do Lulo.
Actualmente a Lucapa possui 39% do projecto mineiro do Lulo, que abrange cerca de 3.000 km2 de área, na Lunda Norte, nas proximidades da localidade de Lucapa, contra os 51% da Endiama e os 10% da Rosa & Pétalas.
Segundo fez saber em Dezembro de 2019 a empresa australiana, o objectivo é - essa intenção ainda não foi, ao que se sabe, retirada - conseguir obter do Ministério dos Recursos Naturais e Petróleo autorização para adquirir quota suficiente para chegar à maioria do capital.
Face ao actual quadro accionista, os australianos só conseguirão essa maioria de capital através da aquisição de parte da participação da Endiama e na agenda da Lucapa estava consegui-lo até este mês de Abril.
Segundo explicou então o CEO da Lucapa, Stephen Wetherall, este movimento resulta da vontade da empresa e da possibilidade aberta pelas alterações legislativas que permitiram "relaxar" as regras que impunham que o Estado fosse detentor da maioria do capital dos projectos mineiros no sector diamantífero.
Segundo Stephen Wetherall, "isto só é possível porque o Governo angolano deseja criar condições para atrair de forma significativa investimento externo directo para o sector mineiro".
Os gigantes do Lulo
Recorde-se que o Lulo é a fonte dos maiores e mais valiosos diamantes alguma vez produzidos pela indústria diamantífera angolana - existindo mesmo no interior da exploração uma estrada que se suspeita estar sobre gemas gigantes -, nomeadamente a "pedra" de 404 quilates descoberta em 2016, que acabou por ser vendida aos suíços da De Grisogono, que pertence a Isabel dos Santos, por 16 milhões de dólares norte-americanos.
Esse diamante foi, depois, sujeito a um trabalho de corte e polimento de luxo que o transformou numa rara jóia de 163 quilates e que foi vendida em Genebra, pela Christie"s, por quase 34 milhões de dólares.
Mas o que leva a Lucapa a avançar com este investimento, se obtiver a autorização para isso do Governo, é que todos os diamantes descobertos nesta mina são de origem aluvial, o que compreende a forte possibilidade de todos eles terem como "mãe" um excepcional kimberlito que ainda está por encontrar mas que os australianos têm apontado como estando dentro dos limites dos 3.000 km2 do Lulo.