Situado na África Ocidental, geograficamente entre o deserto do Saara e a aridez do Sahel, o Mali é dos países com mais convulsões sociais e políticas nos últimos anos, viveu dois golpes de Estado em 2020 e 2021, nos quais os militares tomaram o poder, e está sob permanente ameaça dos grupos radicais islâmicos há mais de uma década.
A votação decorreu sem incidentes de relevo, mas em vastas zonas do norte do Mali as urnas nem sequer foram abertas devido à imposição das forças milicianas, antigos rebeldes, que controlam as áreas de Kidal, Tissalith ou, entre outras, Ashiboko.
Depois dos golpes de 2020 e 2021, os militares do Mali deram início a um processo de afastamento claro da sua antiga potência colonial, a França, obrigando mesmo à saída dos seus militares que estavam na região a ajudar no combate aos grupos terroristas de génese islâmica.
Em sentido contrário, o Mali iniciou uma aproximação a Moscovo, aumentando de forma significativa a presença de conselheiros militares enviados pelo Kremlin nas suas forças de segurança, sendo ainda cada vez mais forte a presença de paramilitares de empresas privadas mas com fortes ligação ao poder russo, como o Grupo Wagner, cuja importância no continente vem crescendo, como o prova o facto de ter um papel fulcral na República Centro-Africana, onde é um dos pilares onde assenta a segurança do Presidente Faustin-Archange Touadéra.
Apesar das sanções a que foram sujeitos, como a suspensão da CEDEAO, da União Africana e da ONU, os militares que governam o Mali não recuam na forma como rejeitam os ditames destas organizações, especialmente a pan-africana UA e sub-regionais, como é o caso do G5 e da CEDEAO, mesmo que isso esteja a colocar em causa o combate ao jihadismo.
O próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres, já advertiu que esta atitude de Bamako está a deteriorar a capacidade de combate aos grupos terroristas e a gerar uma instabilidade política de extrema gravidade com violações sérias aos Direitos Humanos no país.
Face a estas críticas, a junta militar acusa a França de estar a usar a sua capacidade de influência na região para isolar o Mali de forma a forçar a retoma da influência que Paris já teve em Bamako.
Recorde-se que, aquando do golpe de Outubro de 2020, que afastou do poder o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta, que liderava o país desde 2013, os militares comprometeram-se com uma transição de dois anos para a realização de eleições, mas em Maio de 2021, antes do terminus desse período, novo golpe militar, liderado pelo vice-Presidente Assimi Goïta, actual Presidente, afastou o Presidente Bah N'daw.
Foi estabelecido novo calendário de dois anos para a transição do poder por vias democráticas para as mãos dos civis, o que não convenceu nenhumas das organizações, da ONU à CEDEAO; passando pela União Africana.