O Mali, o Níger e a Guiné-Conacri começam a ver aliviadas as sanções e punições aplicadas pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental, depois de os novos regimes que governam estes países terem consolidado as bases do seu poder.

Mas o mesmo não está a suceder ao Burquina Faso, apesar de em nada se distinguir dos outros, mantendo mesmo uma aliança ad hoc de defesa comum com o Níger e o Mali, no que diz respeito ao respeito pela democracia e o Estado de Direito, muito duvidosos em todos eles, mas com um pormenor que sobressai em relação aos demias.

Em Ouagadougou, a junta militar que assumiu o poder em Setembro de 2022, afastando o Presidente Paul-Henri Damiba, um aliado muito próximo de Paris, sob liderança do capitão Ibrahim Traoré, iniciou um agressivo processo de afastamento diplomático da França, a antiga potência colonial.

Depois de o Governo francês recusar as ordem de Ouagadougou de retirar as suas tropas estacionadas no país há décadas, foi dada ordem de expulsão ao embaixador e cortadas as relações com Paris.

Com uma forte pressão da França sobre a CEDEAO, esta organização sub-regional (ver links em baixo nesta página) ameaçou mesmo com uma intervenção militar, tal como o fez com o Níger, o que levou o chefe da junta militar e Presidente interino, Ibrahim Traoré, a desafiar tantro Paris como a comunidade regional.

Este levantamento de sanções que exclui o Burquina Faso, como expõem alguns analistas africanos, é resultado da estratégia francesa de pressão sobre a sua antiga colónia, ma das mais relevantes estrategicamente no seio da "FranceAfrique", uma entidade mais mental que prática no Sahel e que está em desmoronamento, como está a influência de Paris nesta vasta geografia assolada por problemas sérios, como é o caso do mais recente, no Senegal (ver links em baixo).

Os mesmos analistas enquadram ainda estas decisões no confronto da CEDEAO com a possibilidade dos três países do Sahel, Burquina, Mali e Níger, como anunciaram que vão fazer, abandonarem a organização no contexto da sua clara aproximação à esfera de influência da Rússia.

Em comunicado, a CEDEAO anunciou que iria "levantar as sanções financeiras e económicas direccionadas à República da Guiné" e "levantar as restrições ao recrutamento de cidadãos à República do Mali para postos no seio das instituições da CEDEAO".

A CEDEAO, como lembra a Lusa, tinha convocado, no sábado, uma cimeira extraordinária para discutir "a política, a paz e a segurança na República do Níger", bem como "os recentes desenvolvimentos na região".

O levantamento de sanções contra a Guiné-Conacri e o Mali não tinha sido precisado na alocução final do presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, no final de sábado.

Na Guiné-Conacri, o bloco de países da África Ocidental tinha interditado as transacções financeiras com as suas instituições, um ano após a chegada ao poder do coronel Mamadi Doumbouya, que retirou da governação o Presidente Alpha Conde, em setembro de 2021.

Na segunda-feira, recorda ainda a Lusa, o chefe da junta militar anunciou por decreto a dissolução do Governo em funções desde julho de 2022.

No Mali, que conheceu dois golpes de Estado em 2020 e 2021, o bloco regional tinha imposto sanções económicas e financeiras que levantou em julho de 2022, quando a junta no poder anunciou um calendário de transição.

A CEDEAO "decidiu levantar com efeito imediato" as sanções mais pesadas impostas ao Níger desde a tomada do poder, em Niamey, de um regime militar que destituiu o Presidente eleito Mohamed Bazoum em julho, tinha anunciado Omar Alieu Touray no sábado.

As fronteiras e o espaço aéreo nigerino serão reabertos, as transacções financeiras entre os países da CEDEAO e o Níger novamente autorizadas, e os bens do Estado nigerino descongelados "por razões humanitárias", declarou o representante.

Os dirigentes militares de Niamey estão também novamente autorizados a viajar, mas mantêm-se "as sanções individuais e políticas", segundo Omar Alieu Touray.

Estas decisões marcam um passo da CEDEAO em direção à retoma do diálogo com os três regimes militares, enquanto o Níger, o Mali e o Burkina Faso - que se distanciaram de França e se aproximaram da Rússia - anunciaram em janeiro a sua intenção de abandonar a CEDEAO.

Os três países formaram uma Aliança de Estados do Sahel (AES), criada em setembro de 2023.