Segundo a RT, este desenlace, inesperado, é resultado de um encontro que teve lugar este fim-de-semana em Copenhaga, capital da Dinamarca, onde estiveram representantes de dezenas de países, incluindo os neutrais Brasil, Índia e África do Sul.
A confirmar-se, é algo inesperado porque este encontro, onde estiveram igualmente destacados elementos da Administração norte-americana e de países europeus, estava a ser claramente desprezado devido à ausência da China.
Porém, avança a RT, a ARD cita fontes internacionais de diversos países com grande credibilidade que garantem que está claramente em cima da mesa o mais importante passo dado até agora para acabar com o conflito.
As negociações de paz terão lugar, se vierem mesmo a ocorrer, num momento em que os esforços militares ucranianos estão muito longe dos objectivos iniciais com a contra-ofensiva que desde 04 de Junho resultou em volumosas perdas para ambos os lados, mas de forma substancialmente mais grave para Kiev, quer em material quer em baixas humanas, como sempre sucede do lado de quem ataca posições defensivas consolidadas do inimigo.
Pode-se depreender que se esta notícia tiver pernas para andar, é resultado de um esforço redobrado dos norte-americanos que enviaram Jack Sullivan, conselheiro para a segurança nacional dos EUA e uma das peças mais importantes da Administração Biden, à capital da Dinamarca.
Com o apoio do Brasil, Índia e África do Sul, e com os EUA neste comboio, além de países europeus de referência, como França e Alemanha, provavelmente este desfecho resulta de conversações prévias com Moscovo, e com Kiev, embora na Ucrânia, a palavra mais relevante seja a dos norte-americanos.
Mas há outras possibilidades por detrás deste acordo de que ninguém estava à espera, e que poderá explicar a iniciativa brusca e inesperada do líder do Grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, porque alegadamente, estaria contra o fim da guerra através de negociações que possam consubstanciar cedências a Kiev dos territórios ocupados e que custaram milhares de vidas aos seus mercenários, como é o caso de Bakhmut.
Entre as várias possibilidades em aberto, está o facto de o ocidente ter já concluído que não conseguiu isolar a Rússia do resto do mundo devido à recusa em alinhar nesse objectivo dos EUA e aliados da NATO por parte de grandes potências como China e Índia, ou mesmo Brasil, ou países com importância regional, como África do Sul, Indonésia, Argélia, Argentina, etc...
E ainda que esta guerra, ao invés de travar a emergência de ma nova ordem mundial que desafia a do ocidente/EUA, está a ajudar a esse caminho com o eixo Pequim-Moscovo a ganhar cada vez mais tracção global, como o demonstra a adesão cada vez maior aos BRICS, organização que agrega Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e à qual há pelo menos 30 países que querem aderir já na Cimeira de Agosto, na África do Sul, o membro africano deste cada vez mais poderoso braço económico que já abraça mais de 50% do PIB global.
Outra abordagem é a crise económica que começa a ser insustentável politicamente para os governos ocidentais, desde logo os EUA, com a pré-campanha já em curso, e outros como a Alemanha, a viverem recessões abrasivas, e onde as suas opiniões públicas começam a exigir o fim do conflito imediato devido ao impacto claro que este tem na sua qualidade de vida.
Apesar de os media ocidentais estarem empenhados em manter longe dos holofotes as cada vez mais ruidosas manifestações e protestos populares no ocidente, para os governos, em fase de ciclos eleitorais em curso ou a aproximarem-se, a guerra na Ucrânia pode ser uma sentença de morte política se não for travada.
O exemplo alemão
O medo de perdas políticas significativas entre os dois maiores partidos alemães e que perfazem a coligação que governa a maior economia europeia, o SPD, sociais-democratas, do chanceler Olaf Scholz, e a CDU, conservadores, começa a fazer sentido, com o avanço claro da extrema-direita radical xenófoba e racista.
Exemplo desse avanço foi a eleição, pela primeira-vez, de um líder a administração local na segunda volta das eleições na comarca de Sonneberg, Turíngia, leste do país, pela AfD (Alternativa para a Alemanha), o partido extremista.
Mas o pior pode estar para chegar, porque a AfD tem vindo a subir com forte consistência nos últimos anos e tem actualmente, segundo algumas sondagens, mais de 20% das intenções de voto no todo nacional, chegando aos 35% nalgumas regiões.