Desta nova ronda negocial na Bielorrússia, país vizinho de ambos os contendores, preparada pelo Presidente do país, Alexander Lukashenko, o mundo, na voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, espera avanços concretos para que a violência abandone a Ucrânia, deixando claro que não existe alternativa ao diálogo.
António Guterres, pouco depois da votação na Assembleia-Geral extraordinária, que teve lugar na quarta-feira, em Nova Iorque, onde, dos 193 países que a integram, 141 votaram favoravelmente a resolução que condena a invasão russa e exige a imediata retirada das suas forças, 35 se abstiveram - Angola foi um deles, mas também a China e a Índia - e cinco votaram contra, lembrou que a Rússia tem a esmagadora maioria da comunidade internacional contra si e deve perceber que já basta desta agressão.
Da parte de Moscovo, a questão é olhada de forma diferente, porque não se trata de uma invasão mas sim de uma "operação especial" que visa proteger a sua segurança vital, tanto no Donbass, enquadrando as agora independentes repúblicas do Donetsk e Lugansk, e da Crimeia, península anexada em 2014 que é inegociável.
No fim da linha, e se se considerar como válidas as palavras de Vladimir Putin e do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, a Rússia quer garantir ganhos não-territoriais, exceptuando o reconhecimento da Crimeia como parte da Rússia, como a garantia de que Kiev desiste definitivamente da entrada na NATO, a Aliança militar que, desde o colapso na URSS, em 1922, se tem alargado até às fronteiras da Rússia através da adesão dos antigos países do Pacto de Varsóvia, o bloco militar oponente da NATO que, tal como a União Soviética, também se desmoronou na década de 1990.
Numa conferência de imprensa em Moscovo, o responsável pela diplomacia russa, Sergei Lavrov, acusou directamente os Estados Unidos de não estarem interessados no sucesso das negociações porque isso é, a seu ver, a forma mais eficaz de manter a Rússia sob pressão internacional.
Lavrov acusou mesmo Washington de pressionar o Governo ucraniano de forma a fazer descarrilar as conversações e isso ficou claro, disse, quando impuseram um atraso de quarta-feira para hoje no encontro na Bielorrússia.
Nas negociações que hoje devem ter lugar, e que estavam previstas para ocorrer na quarta-feira, não tendo sido divulgada, por KIev, a razão para a mudança do calendário, em cima da mesa estão as posição, intransigentes, pelo menos aparentemente, de Moscovo sobre as questões da neutralidade ucraniana, e de Kiev, a igualmente intransigente exigência da saída das colunas militares russas do país.
O desenrolar destas conversações é difícil, como reconhecem os analistas, mas a retórica que a antecede este tipo de negociações é sempre extremada de forma a conseguir vantagens sobre o adversário, mas isso sucede igualmente no terreno, onde a Rússia tem somado ganhos importantes, desde logo em cidades fulcrais, como Kherson e Mariupol, estrategicamente na costa do Mar Negro, ou Kharkiv, a segunda cidade do país, no leste da Ucrânia.
O cerco a Kiev também se aperta, com dezenas de milhares de soldados russos nas suas imediações, apoiados por colunas com dezenas de quilómetros compostas por veículos de apoio logístico e carros de combate dos mais diversos modelos.
Entretanto, na frente externa, o Banco Mundial acaba de anunciar a saída imediata de todos os programas de ajuda na Rússia e na Bielorrússia.
Entretanto, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chefe da diplomacia de Washington, acusou Putin de ter uma "retórica provocante" sobre armas nucleares, considerando esse discurso de Vladimir Putin "um pináculo da irresponsabilidade".
Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, condenou as "mentiras" e "ofensas" do regime russo acerca do nazismo na Ucrânia e anunciou um plano de resiliência económica e social para a França enfrentar as consequências da invasão russa.
Já Ministério da Defesa russo iniciou, ao 7º dia de guerra, a estratégia de resposta à "propaganda ucraniana", admitindo a morte de 498 soldados russos e 1.597 militares feridos, contrariando de forma substancial as informações de Kiev, que apontam para 7 mil russos mortos e largos milhares de feridos.
Nos países vizinhos da Ucrânia, amontoam-se os refugiados da guerra, somando já, segundo a ONU, mais de 1 milhão, incluindo milhares de estrangeiros, como os estudantes africanos e asiáticos, ou imigrantes destes continentes, que estão, pelo menos alguns deles, a ser alvo de actos racistas e xenófobos na forma como são secundarizados na forma de saída do país, nas estações de comboio, por exemplo, e nas fronteiras com a polónia e Roménia, o que levou a uma resposta da União Africana a exigir tratamento igual para todos aqueles que procuram refugiar-se do conflito armado, como o exige a lei internacional.