Depois de várias instalações nucleares ucranianas terem sido capturadas, danificadas ou comprometidas nas duas semanas decorridas desde o início da invasão russa da Ucrânia, o chefe da Agência Internacional de Energia Atómica pediu que fossem negociadas garantias de segurança para se evitarem acidentes nucleares. A reunião que manteve com os ministros dos Negócios Estrangeiros russo e ucraniano não teve resultados concretos, mas Grossi disse ter observado indicadores positivos: "A Ucrânia e a Federação Russa querem trabalhar connosco, concordaram em trabalhar connosco".

O director-geral da AIEA disse esperar que novas conversações com ambas as partes se realizem em breve.

No Twitter, Grossi deixou uma mensagem lenitiva: "Encontro construtivo e importante com Sergei Lavrov em Antalya, Turquia, esta tarde. Estamos a fazer progressos na segurança das instalações nucleares na Ucrânia".

Grossi manifestou igualmente preocupação com o equipamento utilizado para monitorizar o material nuclear em Chernobyl e na central nuclear de Zaporizhzhia, uma vez que a AIEA não recebe dados do sistema de monitorização há vários dias.

"O que temos é realmente uma situação de degradação, que é uma situação preocupante para nós", salientou.

A reunião aconteceu depois do anúncio de Kiev de que tinha perdido a comunicação com a central nuclear de Chernobyl.

A empresa de energia ucraniana Ukrenergo disse, na quarta-feira, que a central nuclear de Chernobyl estava "completamente desligada" da rede eléctrica, na sequência de operações recentes das forças russas.

Corredores humanitários

Entretanto, a Rússia afirmou que vai abrir corredores humanitários todos os dias para permitir que os refugiados ucranianos cheguem a território russo, enquanto Kiev pede passagens que permitam a retirada de civis dentro da Ucrânia.

"Anunciamos oficialmente que os corredores humanitários para a Federação Russa vão ser abertos unilateralmente, sem coordenação, todos os dias a partir das 10:00 [08:00, em Luanda]", disse o Ministério da Defesa russo, segundo agências de notícias russas.

Os corredores virados para "outras direcções serão negociados com o lado ucraniano", acrescentou.

As autoridades da Ucrânia abriram mais sete corredores humanitários para retirar os civis de algumas das cidades mais importantes do país, atacadas pelas forças russas.

As travessias que passaram a ser seguras estão localizadas em Mariupol, uma das cidades do sudeste da Ucrânia que mais tem sofrido com o cerco russo, além de Volnovaja, Izium, Sumi, Trostianets e Krasmopil.

As autoridades dizem estar também a esforçar-se para garantir rotas seguras para a saída da população das cidades em redor da capital: Bucha, Borodianka, Irpin e Gostomel.

Em Versalhes, França, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) disseram "sim" à euro-integração ucraniana "depois de cinco horas de discussões acaloradas".

Em comunicado, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, destacou uma das conclusões do encontro: "Sem demora, reforçaremos ainda mais os nossos laços e aprofundaremos a nossa parceria para apoiar a Ucrânia na prossecução do caminho europeu".

Num comunicado conjunto, "o Conselho Europeu reconheceu as aspirações europeias e a escolha europeia da Ucrânia", lembrando a legitimidade do pedido de Kiev "para se tornar membro da União Europeia".

"O Conselho [Europeu] agiu rapidamente e convidou a Comissão [Europeia] a apresentar o parecer sobre este pedido, em conformidade com as disposições pertinentes dos tratados. Até lá e sem demora, reforçaremos ainda mais os nossos laços e aprofundaremos a nossa parceria para apoiar a Ucrânia na prossecução do seu caminho europeu. A Ucrânia pertence à nossa família europeia", refere o comunicado.

Os líderes europeus exigiram ainda "que a segurança das instalações nucleares da Ucrânia seja imediatamente assegurada com a assistência da Agência Internacional da Energia Atómica" e que "a Rússia cesse a ação militar e retire todas as forças e equipamento militar de todo o território da Ucrânia imediata e incondicionalmente, e respeite plenamente a integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas".

Por outro lado, lembraram que já adoptaram "sanções significativas" contra a Rússia e que se mantêm dispostos "a avançar rapidamente com mais sanções".

Contexto

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.