Joe Biden, depois de Telavive, voa para a Jordânia, o Egipto, onde manterá conversas sobre o mesmo tema com o Rei Abdullah II e o Presidente Abdel Fattah el-Sisi, e estará igualmente com o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, embora não tenha sido anunciado o local desse encontro.
Esta é uma das mais arriscadas deslocações ao exterior de todo o mandato, até agora, do Presidente norte-americano, que vai voar sobre uma zona de guerra, onde são disparados centenas de roquetes, por vezes ao dia, pelo Hamas, enquanto Israel, com o seu sistema de defesa antiaéreo "cúpula de ferro", dispara outros tantos misseis para os travar.
Mas a Casa Branca considerou que os objectivos desta ida ao Médio Oriente pode ter ganhos exponenciáveis para a campanha eleitoral do democrata Joe Biden que vai tentar um segundo mandato nas Presidenciais de 2024, embora antes de sair de Washington o seu secretário de Estado, Antony Blinken, tenha deixado claro que em Telavive Biden manifestará a Netanyhau o apoio incondicional dos EUA a Israel nesta campanha de erradicação do Hamas da Faixa de Gaza.
O que os EUA demonstram querer mais que tudo não é travar a calamidade em Gaza, onde em apenas 11 dias morreram quase 3 mil civis, entre estas mortes as de mais de 800 crianças, e cerca de 10 mil feridos, nem o que as Nações Unidas admitem poder ser um crime internacional e de guerra, que é o bloqueio israelita a Gaza, mas sim que nenhuma faísca desta fornalha chegue ao "barril de petróleo" do Médio Oriente, o que levaria a uma explosão no preço do crude e, com isso, um agravamento da já severa crise económica nos EUA e na Europa Ocidental.
Além do mais, uma expansão do conflito para os países vizinhos nesta complexa região do mundo, levaria sempre ao envolvimento do Irão, o que constituiria novas frentes de guerra para as forças israelitas, as IDF, nomeadamente na fronteira com o Líbano, no norte do país, onde estão concentrados milhares de militantes do Hezbollah, o movimento político-militar apoiado por Teerão e que já tem uma longa experiência de conflitos com Israel, o que iria diluir fortemente a capacidade de combate em Gaza.
Além do mais, e apesar de ter no Mediterrâneo, junto à costa de Israel, dois porta-aviões e vários navios de guerra de apoio, o que só aconteceu na história bélica dos EUA em situações de conflito aberto, como no Iraque, se o Irão, directamente, ou através do Hezbollah, entrar nesta guerra - o ministro dos Negócios Estrangeiros até já admitiu um ataque profiláctico (ver links em baixo nesta página) sobre as forças que se preparam para entrar em Gaza -, as forças dos EUA teriam de entrar no conflito, o que teria consequências impossíveis de imaginar... em todo o mundo.
No entanto, há um elemento neste xadrez que permite antecipar um desfecho menos escaldante para a situação em Gaza, e que passa pelo facto de o périplo de Biden, que, exposto a este risco, permite reforçar a imagem eleitoral de coragem, o que será, naturalmente, aproveitado para esse efeito, ser um decalque quase integral do que Antony Blinken fez nos últimos dias.
Se Biden volta ao local onde Blinken já esteve, é, seguramente, para ratificar decisões já tomadas e assim aparecer na fotografia como o homem que permitiu uma saída airosa - falta saber qual? - para uma situação que tem quase tudo para poder levar à explosão de todo o Médio Oriente, como ficou evidente este fim-de-semana, quando dezenas de milhões de pessoas saíram às ruas em apoio à Palestina de Marrocos ao Iraque, do Irão ao Iémen, passando pelo Qatar, Arábia Saudita, EAU, Jordânia ou Tunísia e Egipto, sem esquecer as várias cidades europeias.
Isto, quando são cada vez mais as organizações internacionais, incluindo agências das Nações Unidas, que começam a dizer abertamente que o bloqueio de Israel a Gaza, onde há uma semana não entra alimentos, electricidade, combustíveis, medicamentos... e a ordem de deslocação de mais de 1,1 milhões de pessoas do norte para o sul das Faixa de Gaza, constitui um crime à face da lei internacional que gere os conflitos e um crime de guerra.
Este cenário está a levar Israel a perder o capital de simpatia e apoio que adquiriu a 07 de Outubro, quando largas centenas de militantes do Hamas mataram mais de mil israelitas no sul do país, na maioria civis, estando hoje esse número acima de 1.400 e mais de dois mil feridos.
Para já, esta anunciada chegada de Biden a Telavive garantiu, pelo menos, que a gigantesca máquina de guerra que Israel montou junto à fronteira com o norte de Gaza (ver links em baixo nesta página), e que ruge por vingança, só terá lugar, se chegar a acontecer, depois do Presidente dos EUA deixar o Médio Oriente.
E por sobre isto tudo, num frenesi típico de uma zona em conflito e em risco de alastramento para uma das mais perigosas regiões do mundo, o Médio Oriente, onde as notícias se sucedem umas atrás das outras, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, advertiu o Hamas que a única solução para evitar a total destruição é a rendição sem condições, uma frase que este movimento de resistência islâmica nem conhece nem aceita desde que foi fundado, em 1987.
Como se não bastasse, e quando o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, cujos apelas têm sido simplesmente ignorados por todas as partes, mostrando à evidência a cada vez mais ruidosa inutilidade das Nações Unidas em casos como este, acaba de anunciar uma ida ao Egipto, provavelmente para procurar "lubrificar" a passagem de ajuda humanitária para o sul de Gaza, nos Estados Unidos o Pentagono mandou colocar em estado de alerta alguns milhares de soldados para o caso de ser preciso reforçar o contingente que já está na região, mais de 10 mil, a bordo dos porta-aviões USS Gerald Ford e USS Dwight Eisenhower, e dos vários navios de guerra que integram as duas poderosas frotas navais norte-americanas.