Entre as mais de 500 pessoas entre mortos e feridos, a maior parte são mulheres e crianças, cerca de 65%, segundo algumas fontes, o que expõe à evidência que os pedidos de alguns dos mais vincados aliados de Israel, como o Presidente dos EUA, Joe Biden, que há várias semanas pede que os civis de Gaza sejam poupados, estão a cair em saco roto.

Apesar da dimensão desproporcionada da resposta, os objectivos traçados pelo Governo de Benjamin Netanyhau no início desta ofensiva, após o ataque do Hamas de 07 de Outubro ao sul de Israel, que era exterminar toda a estrutura do movimento de resistência palestiniano à ocupação israelita, considerado terrorista por várias organizações internacionais e países, e a libertação dos reféns, perto de 130 ainda no território, estão longe de terem sido alcançados.

Isto, apesar de as IDF terem já, segundo números confirmados pelas autoridades palestinianas e das organizações da ONU ainda no território, matado mais de 21 mil palestinianos (nove mil crianças) e mais de 55 mil terem ficado feridos, subsistindo ainda um número indeterminado, mas que pode chegar aos milhares, de corpos soterrados nos escombros em que Gaza está a ser transformada há dois meses (ver links em baixo nesta página) consecutivos pelos bombardeamentos e perla incursão terrestre das forças israelitas.

Segundo fontes israelitas, foram, no entanto, abatidos perto de oito mil combatentes do Hamas, enquanto Telavive admite a morte de perto de 150 soldados das IDF, número que segundo fontes palestinianas, será substantivamente superior, mas impossível de confirmar a partir de fontes independentes.

Este conflito está a ser marcado pela brutalidade da resposta de Israel, uma das maiores potências militares do mundo, que conta com um apoio ilimitado dos EUA, a maior potência militar planetária, e de alguns europeus, como a Alemanha e o Reino Unido, que se bate contra um grupo de milicianos, as Brigadas Al Qassam, o braço armado do Hamas, que conta com, segundo diversas fontes, entre 30 mil e 50 mil combatentes, embora, comparativamente com as IDF, pobremente armados e equipados.

Nele já foram batidos vários recordes em horror, com mais de uma centena de jornalistas mortos (foto), alguns deles, alvejados deliberadamente pelas forças israelitas, um número nunca atingido noutros conflitos em tão curto espaço de tempo, sendo o mesmo quadro quando se aborda a questão dos funcionários da ONU mortos desde 07 de Outubro, cuja cifra já se aproxima dos 150, outro recorde mundial.

É no que diz respeito às crianças que este conflito está a gerar maior indignação em todo o mundo, especialmente porque nas imagens que ainda se soltam das dificuldades criadas artificialmente por Israel, desde logo os ataques aos jornalistas, mas especialmente os apagões de internet e o fecho hermético das fronteiras, é evidente a desproporção da resposta de Telavive, que não demonstra qualquer tipo de restrição para reduzir as baixas civis, como tem sido dito a partir do território pelos repórteres ainda activos, que pior que o que se está a verificar, só um ataque nuclear, que, de resto, chegou a ser defendido por elementos do Governo israelita.

A proporção de crianças e mulheres mortas nas últimas 24 horas, como noticiam esta manhã de quinta-feira, 28, as agências de notícias, perto de 65 a 70 por cento, é semelhante aos números globais desta tragédia desde 07 de Outubro, quando, recorde-se, os combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica avançaram sobre as fronteiras do sul de Israel deixando um rasto de morte e destruição, com mais de 1200 mortos e 4 mil feridos.

Segundo vários especialistas militares e analistas políticos, estes números podem ser considerados risíveis se algumas das teses em análise se confirmarem, como a possibilidade de uma abertura de frente de guerra no norte de Israel, sul do Líbano, com o Hezbollah, o movimento apoiado pelo Irão.

Tal cenário seria uma passadeira vermelha para uma expansão do conflito para o resto do Médio Oriente, região que produz diariamente perto de 40% do petróleo consumido em todo o mundo.

Com essa possibilidade em cima da mesa dos analistas, tanto ocidentais como a oriente, a diplomacia norte-americana está de novo activa na região com a esperada visita, o que será a quarta à região, do secretário de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros), Antony Blinken, a Israel.

Isto, quando se multiplicam igualmente as manifestações de apoio à causa palestiniana em todo o mundo, especialmente na Europa e nos EUA, com cada vez mais pessoas a saírem às ruas a exigir um cessar-fogo, dando voz popular aos apelos lancinantes do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que não tem poupado esforços para esse objectivo.

A questão da deterioração das condições de vida em Gaza é outro tema permanente nas intervenções de Guterres, nomeadamente a falta de comida, água potável, medicamentos, combustíveis, a destruição da rede hospitalar no território, onde dos 36 hospitais, apenas nove estão funcionais, quando se trata de uma geografia de apenas 365 kms2 para mais de 2,3 milhões de habitantes, quase todos deslocados à força das suas casas.

Alias, Gaza tem uma das maiores densidades populacionais do mundo, com 6500 habitantes por km2, o que faz com que este cenário se esteja a transformar num caldo perfeito para o desenvolvimento de epidemias de doenças infeciosas e diarreicas, aumentado pela existência de um número elevado de cadáveres sob os escombros de Gaza, que é, praticamente, o estado de todo o território.

Como sairá Netanyhau deste "buraco"?

Face ao evidente insucesso, para já, das IDF no cumprimento dos objectivos iniciais, a destruição do Hamas pela base até ao topo, e a libertação de reféns, cada vez mais emergem dúvidas sobre o futuro político do primeiro-ministro israelita, desde logo porque ainda não deu qualquer explicação para a inacreditável falha da "intelligentsia" que permitiu a surpresa do ataque de 07 de Outubro.

São cada vez mais as dúvidas sobre esse momento, alegando algumas teses mais radicais que Netanyhau, acossado pela justiça em crimes de alegada corrupção grave, e pelas ruas em manifestações continuadas contra a sua reforça da justiça com a qual alegadamente se queria proteger dos tribunais, deixando em aberto a possibilidade de ser a ele a quem mais esta guerra está a servir para protelar o seu descalabro político e pessoal.

Isto, porque ninguém acredita verdadeiramente que as organizações de recolha de informação israelitas, entre as mais prestigiadas do mundo, como a Mossad, para as operações especiais e recolha de dados no exterior, o Shin Bet, recolha interna de informações, e a AMAN, a secreta militar que dá cartas em todo o mundo, não deram por nada naquela altura, em que o Hamas protagonizava a mais ousada e extraordinária acção em território israelita...

Com várias vozes ocidentais a cresceram nas críticas a Telavive, onde o actual Governo é o mais radical, tanto politica como religiosamente, na história de Israel, Estado criado em 1948, embora sob a forma de fontes citadas na imprensa ocidental, da Turquia, um dos países mais preponderantes naquela vasta região islâmica, o destino de Netanyhau começa a ser antecipado às claras. E não é bom...

O conselheiro de Recep Erdogan, Presidente turco, Akif Cagatay Killic, veio dizer sem titubear que o mundo está a ver em directo a brutalidade do "Estado judeu" em acção, o que retira qualquer futuro político ao primeiro-ministro israelita.

O Presidente turco tem-se revelado uma das mais pesadas vozes críticas de Israel, o que é um dado a que os EUA não podem ignorar porque a Turquia é uma das mais importantes potências militares da NATO, a segunda maior a seguir aos EUA, e tem um papel determinante no vasto Médio Oriente, especialmente pela sua clara aproximação a Moscovo e também, embora menos acentuada, ao Irão, um declarado aliado do Hamas e do Hezbollah.

Erdogan tem mesmo acusado Netanyhau de genocídio em Gaza e de o comparar a Hitler, mas esta é a primeira vez que, pela voz do seu conselheiro, vem dizer publicamente que o primeiro-ministro israelita não tem futuro político fora do caldeirão de Gaza.

Isto, quando também de Telavive surgem retaliações contra Erdogan, com Netanyhau a acusar Erdogan de ser um campeão mundial de detenção de jornalistas e de estar há anos a derramar bombas sobre as populações curdas, na fronteira com a Síria e o Iraque.

Certo e seguro, como o próprio já admitiu, é que, assim que esta guerra chegar a um cessar-fogo prolongado, terá de prestar contas sobre as falhas clamorosas de segurança e na justiça, onde é acusado de crimes severos de corrupção e peculato.