Na terça-feira foi morto Saleh al-Arouri ,o número dois do Hamas, em Beirute, no Líbano, ao que tudo indica por um comando da Mossad, a secreta israelita, e já na quarta-feira, duas explosões mataram mais de 100 pessoas no Irão, durante uma cerimónia junto ao túmulo do general Qassem Soleimani (na foto), antigo comandante da Guarda Revolucionária, que foi abatido por um drone norte-americano, em Bagdad, Iraque, em 2020.
Estes dois ataques, sendo que a morte de al-Arouri já foi confirmada como tendo a assinatura de Israel, e no que respeita às explosões no Irão, na cidade de Kerman, a cerca de 800 kms de Teerão, quando milhares participavam numa cerimónia junto ao túmulo do antigo general, prevalece a ideia de que foi também Israel, pelo menos é isso que dizem as autoridades iranianas, que organizou o atentado.
Num momento em que esta fase mais intensa do conflito em Gaza entre o Hamas e Israel corre célere para os três meses, após o ataque ao sul de Israel pelo movimento islâmico, atinge um ponto de extrema violência e devastação, com mais de 22 mil civis palestinianos mortos, uma larga maioria de crianças e mulheres, alguns analistas apontam que estes dois episódios podem marcar um ponto de viragem para o que é mais temido na comunidade internacional.
E isso seria o alargamento do conflito para a vasta área do Médio Oriente, risco que já está a ser considerado pelos mercados petrolíferos nesta quinta-feira, com uma forte subida no valor do barril de crude - que saltou dos 74 USD para os 79 USD por barril entre terça-feira, 03, e hoje, quarta-feira, 04 -, especialmente através de um maior envolvimento do Hezbollah, o movimento apoiado pelo Irão que controla há décadas o sul do Líbano, e que mantém uma tensão permanente com as forças israelitas junto à fronteira com o norte de Israel.
Mas também para as regiões da Cisjordânia, nos Montes Golã, na fronteira com a Síria, e, como tem sido evidente nas últimas semanas, no Mar Vermelho, através de ataques dos Houthis, do Iémen, um grupo rebelde igualmente apoiado pelo Irão, aos navios, incluindo petroleiros, que atravessam o estreito de Bab el-Mandeb, por onde acedem do Mar Arábico (Índico) ao Canal do Suez.
Face a este crescimento exponencial do risco de alastramento do conflito para o "poço de petróleo" que é o Médio Oriente - ali estão alguns dos maiores produtores de crude e gás do mundo, como a Arábia Saudita, o Iraque, o Irão, o Qatar os EAU -, o secretário de Estado norte-americano, equivalente a ministro das Relações Exteriores, Antony Blinken, está de volta a Israel e à região, para a 4ª visita ao epicentro desse mesmo risco, com o objectivo oficial de reduzir as tensões, apesar de o apoio dos EUA a Telavive ser, como sempre, irredutível e ilimitado.
Isto, porque não está apenas em cima da mesa a possibilidade de intervenção do Irão, como prometeu o seu líder religioso, o aiatola Ali Hosseini Khamenei, a maior autoridade do país, após as explosões junto ao túmulo de Qassem Soleimane, onde, nesta quarta-feira, morreram cem pessoas e mais de 250 ficaram feridas, mas também as acusações de rara gravidade feitas a Israel pelo Presidente da Turquia, Recep Erdogan, que acusou o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau de ser "pior que Hitler" na forma como mata indiscriminadamente civis em Gaza.
Para acrescentar tensão a uma corda que está prestes a rebentar, dois ministros israelitas, do mais radical, ideológica e religiosamente, Governo de sempre em Israel, vieram defender publicamente que os palestinianos deviam ser expulsos de Gaza para ali assentar novos colonatos judeus.
Estas declarações inflamatórias, que podem, no limite, acelerar uma acção dos países islâmicos da região, foram proferidas pelos ministros da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e das Finanças, Bezalel Smotrich, que são as caras mais radicais da extrema-direita que integra a coligação que suporto o Governo de Benjamin Netanyahu.
Como pano der fundo a este cenário de terror está a situação em Gaza, onde já morreram mais de 22 mil civis sob o tapete de bombas israelitas, com vários recordes batidos, entre estes o de maior número de jornalistas mortos, mais de 110, uma grande parte deliberadamente alvejados pelas forças israelitas, quase 200 funcionários da ONU, e mais de 10 mil crianças, o que nunca tinha sucedido noutro conflito, em tão pouco tempo.
O ataque israelita iniciado após 07 de Outubro, quando ocorreu o assalto ao sul de Israel do Hamas, foi e está a ser marcado pelo uso extenso de artilharia e ataques aéreos sobre um território de apenas 365 kms2, habitado por mais de 2,3 milhões de pessoas, comprimidas numa faixa de território de apenas 40 kms de extensão por nove de largura, onde se encaixam 6500 pessoas por km2, uma das mais altas densidades populacionais do mundo.
Teerão pede a Conselho de Segurança que condene ataque (Lusa)
O Irão enviou uma carta ao Conselho de Segurança da ONU a pedir a condenação "imediata e inequívoca" à dupla explosão que matou cerca de 100 pessoas perto do túmulo do general Qassem Soleimani
Teerão "condena estes actos hediondos de terrorismo e não poupará esforços para conseguir justiça para as vítimas deste incidente", referiu o documento, assinado pelo representante do Irão junto da ONU.
Na carta, citada pela agência de notícias iraniana Mehr, Amir Saed Iravani apelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que condene "de forma imediata e inequívoca este terrível ataque terrorista".
Iravani garantiu também a "firmeza" do Irão no seu "compromisso inabalável em liderar a luta contra o terrorismo", acrescentando que o país tem sido "uma das principais vítimas" do fenómeno.
Nenhum país ou organização reivindicou até ao momento a autoria deste ataque que foi o mais mortífero desde a Revolução Islâmica, de 1979, no Irão.
O Irão tem sido alvo de ataques, com sabotagens e mortes, cuja autoria tem atribuído a Israel. Contudo, entre estes ataques nunca estiveram explosões dirigidas a aglomerados de pessoas, como o de hoje.