João Lourenço convidou Paul Kagame para uma reunião em Luanda na semana passada e a agenda era totalmente dedicada à melindrosa situação nos Grandes Lagos, onde no horizonte relampeja a possibilidade de um confronto militar.
Por detrás do atrito político-militar entre a RDC e o Ruanda está o apoio já confirmado pela ONU (ver links em baixo nesta página) aos guerrilheiros do Movimento 23 de Março (M23) que actuam no leste congolês, nas províncias dos Kivu Norte e Sul.
Os dois países estão há largos anos a trocar acusações de invasão de territórios, mas com especial ênfase desde 2021, quando reapareceu no terreno o M23 a criar instabilidade e a tomar de assalto várias localidades desta região rica em desejados recursos naturais estratégicos como o cobalto e o coltão.
Para travar uma escalada militar nas fronteiras ruando-congolesas, nos últimos anos foram feitas várias tentativas, tanto em Luanda como em Nairobi, no Quénia, no âmbito das organizações sub-regionais da EAC, SADC e da CIRGL, mas sem grande sucesso.
Nem sequer as forças de interposição e estabilização enviadas para os territórios do leste congolês pela SADC e pela EAC, onde Angola está com centenas de militares, conseguiram diluir a tensão.
No entanto, esse caminho parece estar agora a ser feito, não podendo ser ignorada a mudança de "shift" em Washington, exigindo a Kagame que trave as suas impetuosidades e "apetites" sobre os recursos congoleses.
Mas foi na recente reunião com João Lourenço em Luanda que Paul Kagame viu a "luz" da incontornável decisão de iniciar negociações com a RDC, porque a pressão é crescente e de difícil sustentabilidade no actual cenário, onde Kinshava vem aumentando as ameaças de uma opção pela via militar para resolver o problema.
Na condição de mediador da CIRGL, da SAD e da União Africana, João Lourenço está a conseguir levar a água ao seu moinho com persistência e, aparentemente, confronto de inevitáveis retaliações da comunidade internacional se o Ruanda não deixar o leste congolês em paz.
Isto, porque se sabe também há décadas que o Ruanda usa a guerrilha para desestabilizar a região de forma a que possa continuar a explorar, por exemplo, o coltão, de que é um exportador sem que tenha conhecidas reservas deste minério estratégico para a indústria 2.0 intramuros.
E agora é Kigali a anunciar que está todo pronto para os dois Presidentes, da RDC e do Ruanda (não há ainda data), se sentarem à mesa e desbravar os caminhos do diálogo face a emergência de uma solução militar que levaria toda a região para um caos ainda mais virulento que o que existe já.