Moscovo não cede e diz que vai mesmo fechar a torneira, avançam os media oficiais russos, mas isso não parece ser um prolema para os países que integram o G7, o grupo de sete países mais industrializados do mundo, que, através do ministro alemão da Economia, anunciou que o que Putin disse querer fazer "é ilegal" e uma "grosseira violação unilateral dos acordos existentes".

Robert Habeck, que protagonizou a resposta do G7 a Putin porque é a Alemanha que detém a presidência rotativa do grupo, avançou sem "totalmente inaceitável" a chantagem de Putin, tendo ainda adiantado que foi feito um pedido a todas as empresas ocidentais que não aceitem a exigência do senhor do Kremlin.

Moscovo estabeleceu a data de 31 de Março como limite para que os clientes do seu gás paguem em rublos.

Se esse prazo não for cumprido, a torneira vai mesmo fechar para os países que estão por detrás das pesadas sanções à Rússia, anunciou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela Russia Today.

Recorde-se que, apesar da guerra na Ucrânia, o gás russo nunca deixou de atravessar a Ucrânia em gasodutos existentes no país, que não foram tocados pelo conflito, mas quando, se isso vier mesmo a acontecer, Moscovo fechar a torneira, a economia global levará outro safanão de tal magnitude que alguns analistas admitem que vai ser difícil recuperar no curto-médio prazo.

Porém, esse momento, apesar de alguns dirigentes russos já terem vindo dizer que defendem o corte no fornecimento imediato após as declarações de Habeck, ainda não chegou e poderá não chegar, até porque a Rússia estaria a abdicar de mais de 500 milhões de euros por dia, que é quando a Europa paga a Moscovo pelo seu gás, mantendo alguns analistas a opinião de que se trata de um "bluff" do Kremlin.

Com esta medida, e depois das pesadas sanções com que o ocidente puniu a Rússia pelo avanço das suas forças militares na Ucrânia, a 24 de Fevereiro, Putin pretende sacudir a pressão sobre a moeda nacional russa, porque as grandes economias europeias teriam de procurar rubos no mercado para pagar as contas do gás, o que geraria o efeito normal quando a procura aumenta sobre um produto que é elevar o seu preço, neste caso o valor do rublo.

Entre as formas de obter rublos está a compra directa da moeda russa a países que os tenham graças às trocas comerciais com Moscovo, ou então vender bens à Rússia para que esta pague em rublos de forma a depois os receber de volta a troco do gás que fornece, embora esta possibilidade fosse, naturalmente, criar uma brecha na muralha das sanções ocidentais à Rússia.

Nos próximos dias saber-se-á qual o desfecho deste braço-de-ferro, quando russos e ucranianos voltam esta semana às negociações presenciais - estava previsto ser hoje mas poderá ser adiado para terça-feira - na Turquia e onde um cessar-fogo está a ser negociado, apesar das dificuldades sentidas até agora, apesar das cedências de um e do outro lado, seja de Kiev, que aceita a sua neutralidade e não-entrada na NATO, seja de Moscovo, que abandonou já a exigência de uma mudança de regime na Ucrânia.

Mas falta ainda muito caminho, desde logo a questão da integralidade territorial do país, como exige o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, seja esse mesmo assunto na perspectiva russa, que é o de manter fora da mesa das negociações a anexação das Crimeia e, mais recentemente, as duas repúblicas do Donbass, Donetsk e Lugansk, pró-russas, apoiadas por Moscovo sem quaisquer camuflagens

Contexto

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.