A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 100.000 deslocados só no primeiro dia de combates.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa "desmilitarizar e 'desnazificar'" o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo de seus "resultados" e "relevância".

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia. O Presidente dos Estados Unidos assinou, na sexta-feira, um memorando a autorizar o envio de até 350 milhões de dólares em apoio militar de emergência a Kiev.

Cinquenta países subscreveram nas Nações Unidas uma declaração sublinhando que "Putin é o agressor" da Ucrânia, prometendo levar a condenação da Rússia à Assembleia Geral da ONU, depois do veto russo a uma resolução do Conselho de Segurança. O presidente francês disse esta manhã que a guerra "vai durar" e que todos "devem estar preparados".

"O presidente Putin escolheu violar a soberania da Ucrânia. O presidente Putin escolheu violar a lei internacional. O presidente Putin escolheu violar a Carta da ONU. O presidente Putin optou por lançar bombas em Kiev, para forçar as famílias a fazer as malas e abrigarem-se em estações de metropolitano. O presidente Putin é o agressor aqui. Não há meio termo", refere a declaração conjunta, divulgada após o veto russo a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a agressão da Rússia à Ucrânia.

Foi um desfecho previsível, uma vez que sendo um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (P5), a Rússia tem poder de veto nas votações. ainda assim, a resolução do Conselho de Segurança contou com 11 votos a favor e três abstenções, incluindo da China. A resolução, co-patrocinada pelos Estados Unidos e pela Albânia, condenava a Rússia "nos termos mais fortes" pela sua "agressão contra a Ucrânia" e exigia que as tropas russas fossem retiradas "imediatamente" daquele país.

A declaração divulgada após o veto foi lida no Conselho de Segurança da ONU pela embaixadora Linda Thomas-Greenfield, representante norte-americana nas Nações Unidas, em nome de 50 países.

"Acreditamos que temos uma responsabilidade particular de enfrentar esta violação da Carta da ONU porque a Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança que é culpado. Aqueles de nós que estão aqui hoje continuam a acreditar no dever solene e no propósito mais elevado do Conselho de Segurança - prevenir conflitos e evitar o flagelo da guerra", refere a declaração.

"A Rússia abusou hoje do seu poder para vetar a nossa forte resolução. Mas a Rússia não pode vetar as nossas vozes. A Rússia não pode vetar o povo ucraniano. A Rússia não pode vetar o seu próprio povo protestando contra esta guerra nas ruas. A Rússia não pode vetar a Carta da ONU. A Rússia não pode e não irá vetar a responsabilização", adianta.

Entre os países subscritores estão Albânia, Austrália, Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, Colômbia, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Geórgia, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Japão, Letónia, Lituânia, Montenegro, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Portugal, República da Coreia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Reino Unido, entre outros.

A resolução vetada responsabilizava a Rússia pela agressão contra a Ucrânia, apelando à protecção de civis, incluindo crianças, e pedindo a facilitação de assistência humanitária rápida, segura e desimpedida aos necessitados.

"Esta resolução foi vital e directa. Fundamentalmente, tratava-se de saber se os países do Conselho de Segurança - encarregados de manter a paz e a segurança internacionais - acreditam na defesa da Carta da ONU. A Carta da ONU foi escrita com o propósito expresso de evitar uma guerra como a que o Presidente Putin acabou de começar. Esta guerra trouxe, nos seus primeiros dias, perdas devastadoras de vidas - e só a Rússia é responsável", adianta a declaração.

Os signatários prometem ainda levar este assunto à Assembleia Geral da ONU, "onde o veto russo não se aplica".

NATO activa força de reacção rápida

A NATO mobilizou pela primeira vez elementos da sua força de reacção rápida, para "evitar transgressões em território da NATO", perante a invasão russa à Ucrânia, revelou a Aliança Atlântica.

"Estamos a mobilizar a força de resposta de defesa colectiva pela primeira vez, para evitar transgressões em território da NATO", salientou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg.

O responsável vincou que "a Rússia lançou uma invasão total da Ucrânia com o objectivo declarado de derrubar o governo, invadindo Kiev".

"Mas os objectivos do Kremlin não se limitam à Ucrânia. Putin exigiu a retirada das forças da Aliança dos territórios de todos os países que aderiram desde 1997?, alertou. Para o secretário-geral da NATO, a resposta deve passar por "fortalecer a dissuasão e a postura de defesa dos aliados".

"A Aliança activou seus planos de defesa na quinta-feira e está a mobilizar elementos da sua força de reacção rápida", explicou. A Força de Reacção Rápida da NATO conta com 40.000 soldados e incluiu uma força operacional conjunta de altíssimo nível de prontidão (VJTF), de 8.000 soldados, actualmente comandados pela França.

Esta inclui uma brigada e batalhões multinacionais, apoiados por unidades aéreas e marítimas e forças especiais. Algumas unidades podem estar prontas a moverem-se dentro de dois a três dias, segundo a NATO.

Governo de Angola vai retirar cidadãos residentes

O Ministério das Relações Exteriores da República de Angola (MIREX) está a trabalhar "afincadamente" com as suas representações diplomáticas na Rússia e na Polónia para retirar os angolanos residentes nas áreas da Ucrânia afetadas pelo conflito.

Segundo uma nota do gabinete de imprensa do MIREX, divulgada hoje, o governo de Luanda tem estado a acompanhar a situação dos angolanos residentes naquele país, "face à escalada de tensão que se verifica nesta parte da Europa do Leste" e tudo fará para salvaguardar a vida dos seus cidadãos residentes na Ucrânia.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.