Os dois documentos com a identificação colhida pelos satélites norte-americanos dos planos israelitas para atacar o Irão geraram um turbilhão diplomático no passado fim-de-semana e até o Presidente dos EUA, Joe Biden, veio a terreiro mostrar o seu incómodo com mais uma falha de segurança clamorosa.
À medida que o tempo passa, depois de os documentos terem sido, em tempo recorde, identificados como válidos pelos EUA, o que costuma demorar muito mais quando são efectivamente reais, crescem indícios de que a "fuga" foi uma manobra interna para manietar a indomável vontade de vingança de Telavive.
Depois de semanas à espera da resposta de Israel aos mais de 180 misseis lançados pelo Irão a 01 de Outubro, também esses como retaliação sobre ataques letais israelitas aos lideres do Hezbollah e do Hamas (ver links em baixo), o calendário começa a ser demasiado arriscado para as pretensões democratas nas eleições Presidenciais de 05 de Novembro nos EUA.
Se Israel, como os documentos mostram, atacar mesmo nos próximos dias ou horas, com a violência e alvos identificados, as consequências sobre as pretensões de Kamala Harris, vice-Presidente e candidata do Partido Democrata, de Joe Biden, em ganhar as eleições, seriam arrasadas.
Isto, porque os alvos identificados nesses documentos, que são, em bruto, imagens colhidas por satélite e a sua interpretação, apontam para a indústria petrolífera e a infra-estrutura nuclear iraniana como alvos principais, o que levaria a uma reacção impossível de prever de Teerão.
Mas não é preciso ser um analista de topo da intelligentsia norte-americana para perceber que a destruição, mesmo que parcial, da indústria petrolífera levaria a um disparo estratosférico do preço do petróleo, o que, no caso dos EUA, prejudicaria enormemente a actual Administração.
Além disso, é quase certo que o Irão ripostaria contra Israel, obrigando os EUA a intervir numa guerra altamente melindrosa no Médio Oriente, não excluindo a hipótese sólida de o Irão fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa mais de 35% do crude consumido diariamente no mundo.
A par desta escalada iminente, outro sinal de que haverá ainda mais lenha para atirar para a fogueira na lista das acções planeadas por Israel contra o Irão, foi admitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Aragchi.
Este veio advertir para os planos de Telavive de assassinar lideres do Irão, incluindo o Líder Supremo aiatola Ali Khamenei e o Presidente Masoud Pezeshkian, no seguimento do que tem sido feto por Israel com os lideres do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e do Hamas, Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar.
Com tal cenário hipotético pela frente, a Casa Branca terá visto na divulgação destes documentos, a forma mais rápida de travar os ímpetos israelitas, porque, ao que as notícias e declarações recentes de Washington, mostram que Telavive não estava a dar ouvidos ao seu principal aliado para conter a sua resposta dentro de determinados limites.
Mesmo que o Presidente Joe Biden já se tenha mostrado incrédulo com a "fuga" dos documentos, que são altamente secretos e de circulação muito limitada, como o afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca, a realidade é que foram estranhamente confirmados como válidos em menos de 48 horas após terem emergido na rede social Telegram.
A possibilidade de um ataque israelita de grande dimensão tem sido claramente alimentada pelos dirigentes do Governo israelita, nomeadamente o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, que, curiosamente, viu a sua casa ser atacada por um drone enviado do Líbano pelo Hezbollah, explodindo quando este ali não estava.
E os seus ministros mais radicais têm mesmo defendido em público que Israel deve aproveitar esta oportunidade para "cortar a cabeça da cobra" no Irão, o que é o mesmo que dizer, decapitar as suas lideranças.
Uma das garantias de que esta divulgação vai refrear os planos israelitas é que os documentos que chegaram ao Telegram, que é uma rede social criada na Rússia e cada vez mais popular em regiões do mundo fora da órbita ocidental, mostram os planos ao detalhe no que toca ao uso de misseis balísticos disparados por aviões.
Esta revelação permitirá ao Irão estar atento aos aviões sobre o Golfo Pérsico e procurar abatê-los nos momentos mais frágeis, como, por exemplo, quando procedem ao reabastecimento em pleno ar, embora não exista nada que indique o momento do ataque nos documentos.
A rapidez com que os documentos foram confirmados como verdadeiros por fontes oficiais norte-americanas é a principal fonte para a tese de que pode ter-se tratado de uma manobra da Casa Branca para anular a "desobediência" israelita.
E a par desta "fuga", o Presidente Biden enviou de novo o seu secretário de Estado, Antony Blinken, que gere a diplomacia de Washington, para o Médio Oriente, com Israel, Arábia Saudita, Qatar, Jordânia e Egipto no mapa de mais este périplo.
Embora seja factual as mais de 10 visitas relâmpago de Blinken ao Médio Oriente em nada travaram as hostilidades, não conseguiram garantir um cessar-fogo em Gaza, muito menos no Líbano, tendo, pelo contrário, coincidido com mais abrasividade nas hostilidades israelitas nas frentes de guerra em que se encontra, a Casa Branca tem usado as suas viagens para procurar demonstrar empenho na procura de uma solução diplomática.