A morte de Yahya Sinwar (na foto), nesta quinta-feira, 17, apanhou o mundo de surpresa porque o líder do Hamas, que ocupou o lugar de Ismail Haniyeh após este ter sido igualmente abatido por Israel em Teerão, a 31 de Julho, era tido como o mais experiente dos comandantes militares do grupo que combate a ocupação israelita em Gaza e que no ocidente é visto como terrorista.
E estava na lista dos mais procurados de Israel e dos EUA na região porque foi ele que organizou e planeou o ataque de 07 de Outubro de 2023, quando o Hamas e a Jihad Islâmica invadiram o sul de Israel e fizeram mais de 1.200 mortos, a maior parte militares apanhados de surpresa nos quarteis.
Assim que se soube da morte de Yahya Sinwar, no que parece ter sido resultado de combates onde as unidades israelitas não tinham como objectivo imediato a sua aniquilação, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que se estava perante uma boa nova para o mundo e que momento permite explorar novos caminhos para a paz na região.
Também quase ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, dizia que este é o momento de o Hamas se render, acabar com a guerra, porque nunca mais vai governar Gaza, território que governa desde 2006, após eleições que não se repetiram, e libertar os reféns que fizeram aquando do ataque do ano passado.
Para já, não há uma resposta do Hamas, que ficou sem liderança e, provavelmente, sem organização centralizada, estando actualmente a funcionar de forma caótica através das suas células de combate, não se conhecendo sequer quem poderá assumir o comando.
Hamas ainda mais clandestino
Mas alguns analistas sugerem que o Hamas deverá optar pela mesma solução do Hezbollah que, depois de ter visto o seu líder, Hassan Nasrallah, morrer, a 27 de Setembro (ver links em baixo nesta página), num ataque da força aérea israelita ao seu búnquer, no sul de Beirute, e o seu presumível sucessor Hashem Safieddine, cair igualmente pela acção das bombas de Telavive, passou a não informar sobre os sucessores ou sobre o processo de sucessão, mantendo a hierarquia no mais rigoroso secretismo.
O mesmo deverá agora fazer o Hamas, visto que Israel já mostrou estar bem informado sobre estas organizações, obtendo importantes sucessos carregados de simbolismo ao abatar, sucessivamente, as suas lideranças e putativas lideranças, permitindo a Benjamin Netanyhau somar vitórias políticas internas em Israel mesmo que a capacidade combativa do Hamas e do Hezbollah tenham permanecido.
Isso mesmo parece estar o Hezbollah apostado em mostrar, porque, depois da morte de Sinwar, e depois de um dos seus comandantes seniores no sul do Líbano, Mohammad Hussein Ramal, ter sido morto num raid israelita, no mesmo dia, anuncou em comunicado emitido de pate incerta, que vai subir um patamar na combatividade contra as forças israelitas.
Esta escalada compreende o uso de novo armamento, que o Hezbollah define como "misseis teleguiados" de curto alcance para atingir as unidades militares israelitas que estão a fazer sucessivos raides aos postos do Hezbollah na região de fronteira do sul do Líbano e do norte de Israel.
Ao que tudo indica, na noite de quinta-feira para hoje, sexta-feira, 18, pelo menos cinco militares israelitas morreram e pelo menos oito ficaram feridos, segundo a Al Jazeera, depois de o Hezbollah ter accionado uma das suas unidades especiais de contenção da invasão israelita quando um pelotão procurava resgatar soldados feridos numa acção anterior.
Isto, recorde-se, quando há pelo menos duas semanas, depois de o Irão ter disparado centenas de misseis hipersónicos contra Israel, para vingar a morte de Nasrallah e Haniyeh, a 01 de Outubro, se aguarda com ansiedade global a resposta israelita prometida por Netanyhau, que pode surgir a qualquer momento.
Vai Israel atacar as instalações nucleares do Irão? O alvo será a sua infra-estrutura petrolífera? Ou Telavive está a pensar atacar os dirigentes iranianos, como tem feito com as lideranças do Hamas e do Hezbollah?
O conflito mais alargado não está mais longe
Da opção israelita vai depender quase tudo, porque o Irão já avisou que a sua contra-resposta será devastadora, e os aliados de Teerão, como a Rússia, já avisaram que seria demasiado arriscado Telavive alvejar as instalações nucleares ou os lideres iranianos, o que pode conduzir a uma guerra aberta no Médio Oriente para a qual poderão ser arrastadas as superpotências militares e nucleares EUA e Rússia.
Entretanto, na frente político-diplomática, a partir de Telavive, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, criticou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, por não ter ainda elogiado e mostrado a sua satisfação pela morte de Yahya Sinwar, reafirmando que este continuará a ser persona non grata no seu país.
"Guterres não saudou a eliminação do terrorista Yahya Sinwar, tal como se recusou a declarar o Hamas uma organização terrorista após o ataque de 07 de Outubro", razão pela qual, acrescentou na rede social X, "vamos continuar a considera-lo persona non grata".
Isto, quando Israel, que possui das mais modernas forças armadas do mundo, com acesso ilimitado ao arsenal norte-americano, incluindo os sofisticados aviões F-35, misseis e bombas à descrição, já massacrou mais de 42 mil civis em Gaza desde 07 de Outubro de 2023, fazendo ainda mais de 200 mil feridos, na grande maioria, entre mortos e feridos, crianças e mulheres.
Diariamente, nos repetidos ataques em todo o território de Gaza, onde a fome severa já atinge metade dos 2,3 milhões de habitantes, segundo as Nações Unidas, as forças israelitas matam centenas de inocentes, como o demonstra o mais recente atauqe, nas últimas horas, a uma escola no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, matando dezenas de refugiados, incluindo crianças.
Gaza é um território exíguo, com cerca de 40 kms de extensão por dez de largura, com 365 kms2, habitado por 2,3 milhões de habitantes, com uma das densidades populacionais mais altas do mundo, enclausurado a norte e leste por Israel, a sudoeste pelo Mar Mediterrâneo e a sul pelo deserto egípcio.
Desde que a invasão israelita começou, as condições de vida degradaram-se de forma galopante, com mais de 70% da população deslocada repetidamente por ordem das forças israelitas, faltando alimentos, medicamentos e combustível devido ao afunilamento das fronteiras por Israel, que impede o fluxo normal de camiões com ajuda humanitária.
Este cenário abriu as portas para uma das mais graves crises humanitárias em todo o mundo, onde a fome, a doença e a sede galopam de forma desenfreada, a ponto de o Presidente norte-americano, Joe Biden, ter ameaçado com um corte no fornecimento de armas se Israel se Netanyhau não facilitar o acesso à ajuda humanitária ao território.