João Lourenço, segundo uma nota da Presidência angolana, tomou a iniciativa de falar com os dois lideres europeu e euroasiático para ajudar a criar condições para a paz "no quadro da obrigação que os Estados membros das Nações Unidas têm de contribuir para a paz e segurança mundial".
Estas duas conversas versaram sobre a situação na Ucrânia e as consequências do conflito que já dura há 64 dias, desde que as forças russas avançaram para a fronteira ucraniana, tendo decorrido, ainda segundo a mesma nota, em ambiente de "bastante cordialidade" e com um objectivo bem definido: "Cconseguir-se um cessar-fogo imediato e o regresso à mesa das conversações para a busca de uma paz duradoura não apenas para a Ucrânia mas também para a Europa".
Angola tem uma relação estreita e longa com a Rússia, demonstrada pela forma como Luanda optou pela abstenção nas votações, duas, nas Nações Unidas, onde em causa estava uma condenação da "agressão" russa à Ucrânia, a 24 de Fevereiro, e ainda a suspensão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Com esta iniciativa, embora o conteúdo pormenorizado das conversas com Putin e com Draghi não tenha sido divulgado, João Lourenço almeja mostrar o seu empenho em ter uma palavra a dizer sobre as principais questões que inquietam a humanidade e mostrar o peso que Angola tem no concerto das Nações, apostando num posicionamento claro em defesa da paz para a Europa e de uma solução negociada para o conflito na Ucrânia.
Esta iniciativa do Chefe de Estado angolano ocorreu ainda no momento em que o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, conduz, por seu lado, uma operação diplomática junto de Moscovo e Kiev no sentido de, também ele, conseguir uma solução negociada para esta guerra.
Com estas duas chamadas telefónicas, João Lourenço pretendeu ainda sublinhar e demonstrar "a vocação para a paz entre as nações e no mundo" de Angola,
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.